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Ryan McMaken | Como as Políticas Monetárias Expansionistas Levaram ao Colapso da FTX

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O colapso da corretora de criptomoedas FTX pode ser um indicativo do perigo das bolhas de criptomoedas movidas a dinheiro [artificialmente barato advindo de políticas monetárias expansionistas]. O colapso da FTX expôs quão pouca diligência está realmente a ocorrer entre os investidores, que aparentemente estão dispostos a colocar grandes quantias de dinheiro em qualquer coisa que pareça ser a novidade mais promissora e promete – sem evidências convincentes – grandes retornos.

 

A FTX parece ser um exemplo clássico de como muitos investidores são facilmente enganados pelas narrativas dos media sobre o mais recente génio do investimento que descobriu magicamente uma nova maneira de gerar retornos sem precedentes.

 

O “génio” neste caso é Sam Bankman-Fried (SBF), um graduado do MIT de 30 anos de idade que derrubou a FTX e colocou o controlo do dinheiro de seus clientes nas mãos de um pequeno número de amigos com praticamente nenhuma experiência real, conhecimento ou escrúpulos sobre como administrar fundos com responsabilidade. A manutenção de registos financeiros e relatórios na empresa eram, na melhor das hipóteses, aleatórios.

 

Os cálculos ficarão obscuros por um tempo, mas agora parece que a FTX “perdeu” pelo menos US$ 1 mil milhões a US$ 2 mil milhões em fundos de clientes, sem falar nos milhares de milhões de dólares em investimentos na empresa que evaporou. Muito provavelmente foi apenas roubado. Mas é difícil adivinhar neste momento porque a FTX não se preocupou em estabelecer um departamento de contabilidade. O novo CEO da FTX relata que o estado da gestão financeira da empresa é pior do que o da Enron [Nota do editor: Enron era uma empresa de energia dos EUA, que em 2001 e 2002, foi o centro das atenções devido a fraudes financeiras realizadas pela empresa quando suas receitas estavam a diminuir no final da década de 1990 para tentar esconder prejuízos inevitáveis. E essas fraudes envolviam investimentos arriscados, incentivados – assim como nos dias atuais, mas em um grau menor – pela política monetária expansionista, que infla artificialmente os preços dos ativos. Veja detalhes aqui, aqui e aqui].

 

No entanto, centenas de milhares (possivelmente mais de um milhão) de clientes estavam dispostos a despejar dinheiro na corretora. Alguns colocaram quase todo o seu patrimônio líquido. Os investidores institucionais colocaram muito mais. A Sequoia Capital, por exemplo, colocou US$ 210 milhões na FTX. A “devida diligência” envolveu uma “chamada de zoom de última hora” com Bankman-Fried, durante a qual ele jogou videogames. Esse dinheiro agora está “desaparecido”.

 

Por que tantos estavam dispostos a entregar de forma tão descuidada grande parte de suas poupanças a uma operação dirigida por um menino de shorts que essencialmente não prestava contas a ninguém? A resposta está no facto de que, quando misturamos manias especulativas com décadas de dinheiro [artificialmente barato] alimentado pelo [governo através do banco central], acabamos com um mundo em que o FOMO [Nota do editor: FOMO – ‘fear of missing out’ – é uma expressão usada no mercado financeiro para se referir ao sentimento de receio por parte dos investidores de perderem a chance de lucrarem com os ativos que estão a valorizar-se] e uma busca desesperada por rendimento levam ao desastre. A implosão da FTX é exatamente o que devemos esperar quando nossa bolha económica de uma década enfrenta o aumento das taxas de juro, uma desaceleração do dinheiro [artificialmente barato] e uma recessão iminente [Nota do editor: o autor se refere a atual política monetária relativamente contracionista atual dos bancos centrais, como o Federal Reserve e o BCE, com aumento de juros de contração de seus balanços] .

 

Como mencionei, o setor de tecnologia em geral está a enfrentar perdas e a necessidade de corte de custos à medida que o preço dos empréstimos – ou seja, as taxas de juros – aumentam.

 

Até este ano, esse inevitável declínio económico foi repetidamente adiado porque muitos problemas e ineficiências em um negócio podem ser encobertos quando é sempre possível apenas tomar mais empréstimos e pagar dívidas antigas com novas dívidas mais baratas. A aposta funciona quando as taxas de juros estão a cair continuamente, como tem acontecido nos últimos quarenta anos. Ou seja, era fácil fazer isso até recentemente. Agora que as empresas não podem mais contar sempre com mais dinheiro [artificialmente] barato, prejuízos e despesas fora de controle tornam-se um problema.

 

Quando os custos dos empréstimos aumentam, empresas ineficientes e fraudulentas têm mais dificuldade em esconder prejuízos e perdas de receita. Isso se torna especialmente problemático para empresas altamente alavancadas que têm enormes custos de serviço da dívida, envolvem-se em travessuras financeiras e assumem investimentos de alto risco, como derivativos [Nota do editor: derivativos são instrumentos financeiros cujo valor deriva de outros ativos ou índices financeiros. Veja mais aqui] .

 

Nos últimos meses, começamos a ver corretoras de criptomoedas tendo problemas por motivos semelhantes. A FTX é apenas o exemplo recente mais espetacular, mas a FTX poderia ter mantido seus problemas ocultos por mais tempo se o dinheiro [artificialmente] barato continuasse a fluir.

 

Eis o que aconteceu: como uma corretora de criptomoedas, a FTX funcionava de certa forma como um banco. Os clientes colocam dinheiro na corretora como uma forma de facilitar os investimentos e usar suas criptomoedas para investir e consumir. Muito disso também girava em torno do token criptográfico da FTX, conhecido como FTT. Os clientes eram uma espécie de “depositantes”. Como um banco, no entanto, a FTX também tentou ganhar dinheiro a fazer investimentos próprios por meio de uma empresa irmã, uma empresa de negociação de criptomoedas chamada Alameda Research. A FTX estava efetivamente a atuar como um banco de reservas fracionárias [Nota do editor: assim como os bancos comerciais tradicionais], usando “depósitos” de clientes para fazer investimentos especulativos por meio da Alameda.

 

Mas então a economia de dinheiro [artificialmente] barato [abrandou um pouco neste ano], quando o Federal Reserve elevou as taxas de juro e recuou na no Quantitative Easing (QE) [Nota do editor: o QE é a política de compra de ativos feita pelo banco central através da expansão da base monetária. Veja aqui como a base monetária e o balanço do Federal Reserve estavam a aumentar em conjunto e, nos últimos meses, estão a diminuir]. Um efeito disso foi a queda dos preços de uma variedade de criptomoedas, entre elas a FTT. Os investidores – tanto pequenos compradores de criptomoedas quanto grandes investidores institucionais – começaram a vender suas criptomoedas ou abrir mão de novas compras para obter liquidez para uso em outro lugar. Como resultado, os clientes da FTX começaram a retirar seus depósitos. Enquanto isso, a grande corretora de criptomoedas Binance começou a vender suas posses consideráveis ​​de FTT. De repente, a FTX teve de devolver o dinheiro a um grande número de clientes que estavam a sair. Mas a FTX já havia comprometido grande parte de seu dinheiro em outros lugares: como muitos investidores, a Alameda e a FTX estavam a fazer apostas mais arriscadas numa tentativa de manter-se à frente da inflação de preços em um mundo de juros ultrabaixos criado pelo Federal Reserve.

 

A FTX descobriu então que não tinha liquidez suficiente para cumprir suas obrigações com os clientes. Além disso, à medida que o Fed recuou no QE e a economia desacelerou, os preços dos ativos começaram a estagnar. Isso significava que as garantias da FTX estavam a perder valor e não podiam ser facilmente vendidas para cobrir pedidos de levantamentos de clientes. Em 11 de novembro, tudo desabou.

 

Isso não teria acontecido – pelo menos não agora – se o dinheiro [artificialmente] barato ainda estivesse a fluir. Os clientes não teriam perdido o interesse em tokens FTT na mesma medida, e a FTX provavelmente poderia ter contraído alguns novos empréstimos para cobrir quaisquer custos crescentes que enfrentasse.

 

Mas, do jeito que estava, simplesmente não havia mais liquidez suficiente para que o golpe continuasse.

 

Assim, descobrimos que os empreendimentos alavancados em criptomoedas enfrentam muitos dos mesmos problemas enfrentados por outros empreendimentos de alto risco altamente alavancados. Assim que o dinheiro [artificialmente] barato acaba, as obrigações financeiras permanecem, mas é difícil obter novos empréstimos para resolver os problemas. Esse problema foi observado meses atrás pela consultora de bitcoin Caitlin Long, do Custodia Bank, que se opôs à alavancagem de criptomoedas – ou seja, “poupança” não lastreada – como uma forma de crédito em circulação.

 

SBF conseguiu manter o estratagema por anos, apesar de suas práticas comerciais manifestamente desonestas, contabilidade absurda e boa e velha fraude.

 

Mas o facto é que inúmeros investidores são tão suscetíveis a golpes como os promovidos por SBF porque querem acreditar neles. Graças à “fome por rendimento” [Nota do editor: que ocorre justamente devido a taxas de juro artificialmente baixas, o que leva os investidores a realizarem investimentos mais arriscados para conseguirem um retorno minimamente considerável ou até mesmo exorbitantes] provocada por anos de [política monetária expansionista], os investidores estão desesperados para encontrar um herói que possa prometer grandes retornos, mesmo que os riscos pareçam altos. Como mencionou o economista Brendan Brown, sempre haverá narrativas especulativas e manias. Mas quando a busca por rendimento se torna especialmente aguda, as coisas ficam muito piores.

 

O setor financeiro então se apaixona por celebridades financeiras como o SBF. A revista Fortune trazia o SBF em sua capa. Inúmeros programas de notícias apresentaram o SBF como um especialista prodígio na nova economia. Isso foi reforçado pelo facto de que grande parte do dinheiro dos clientes que o SBF administrava mal – ou seja, roubava – era usado para enormes campanhas de relações públicas destinadas a polir sua imagem e influência. Ele deu imensas quantias de dinheiro ao partido democrata e usou fundos para conquistar incontáveis ​​elites nos media. Mesmo quando a fraude do SBF foi exposta, o New York Times e o Washington Post ainda publicavam artigos sobre como o SBF e seus associados são apenas benfeitores incompreendidos. O próprio SBF admitiu que sua imagem fazia parte de um golpe.

 

A estratégia funcionou, e os especuladores, cheios de dinheiro [artificialmente] barato, continuaram a colocar dinheiro na FTX com pouca ou nenhuma diligência. Muitos investidores esquecem que, quando o dinheiro [artificialmente] barato está a fluir, as mediocridades financeiras – e até mesmo as fraudes – podem parecer génios legítimos. Muitas vezes requer apenas uma pequena quantidade de aperto monetário para expor a fraude e a festa acaba.

 

 

Artigo originalmente publicado no Mises Institute.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Ryan McMaken é editor sénior do Mises Institute. Ele possui bacharelado em Economia e mestrado em Políticas Públicas e Relações Internacionais pela University of Colorado. Ele foi um economista de habitação para o Estado do Colorado. É o autor de Commie Cowboys: The Bourgeoisie and the Nation-State in the Western Genre.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigo não necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e do tradutor/editor deste artigo.

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