Fale Connosco

+351 255 214 495 

(Chamada para rede fixa nacional)

Mark Thornton | Prémio Nobel de Ben Bernanke: Uma Premiação a um Incendiário por Alegar que Combateu o Fogo que ele Próprio Começou

blank

Nota do editor: em geral (sobretudo em áreas de economia e outras de ciências humanas) não levo o prémio Nobel a sério. Na minha opinião, tendem a ser usados ou para legitimação do Estado em geral (por exemplo, o Nobel da paz sendo indicado e/ou atribuído a políticos) ou como justificativas para intervenções estatais. Muitos prémios Nobel de economia foram atribuídos a economistas Keynesianos, que defendem a intervenção estatal nas diversas áreas da economia. É inegável que o governo possui uma influência indireta nisso, pois as universidades são dominadas pelo pensamento keynesiano. Visto que esta linha de pensamento apoia intervenções estatais, esta é a linha ensinada na maioria das universidades, já que é o Estado, na maioria dos casos, que determina os conteúdos e as metodologias das unidades curriculares, através do ministério da educação (as universidades privadas também devem seguir estas determinações). Leia o artigo sobre o prémio Nobel do ano passado.

 

Ben Bernanke, Douglas Diamond e Philip Dybvig, receberam [recentemente] o Prémio Nobel de Economia. Os três escreveram extensivamente sobre a necessidade de socorrer os bancos em momentos em que a economia está em modo de correção, geralmente após um longo período de injeções monetárias. Bernanke era presidente do Federal Reserve – Fed [o banco central dos EUA] quando advogou pela rodada de resgates bancários em 2007-2009 [Nota do editor: Bernanke foi presidente do Fed de 2006 a 2014 e, portanto, quem realmente gerou o “incêndio” – a crise financeira e recessão provocadas por expansão monetária e taxas de juro artificialmente baixas – foi o presidente do Fed anterior, Alan Greenspan; Bernanke apenas fingiu que conteve o incêndio eficazmente].

 

A pesquisa de Bernanke concentrou-se na Grande Depressão [Nota do editor: a Grande Depressão se refere à crise económica americana de 1929 e a seguida depressão económica que durou até 1946, criadas pelo próprio governo e pelo Fed durante a década de 1920. Veja mais como o governo e o Fed criaram a depressão e a mantiveram ou a até a pioraram ao longo da década de 1930 aqui, aqui, aqui, aqui e aqui] e argumentou que os bancos precisavam ser resgatados na década de 1930 em resposta ao colapso do mercado de ações e à severa correção na economia dos EUA. Diamond e Dybvig também escreveram sobre as implicações das falências de bancos na economia dos EUA. Todos os três apegaram-se à ideia de que os bancos recebem depósitos que são resgatáveis ​​a curto prazo, mas fazem empréstimos de prazo mais longo e, portanto, são suscetíveis a corridas bancárias [Nota do editor: isto se refere à incompatibilidade de prazos de ativos e passivos, o que ocorre de maneira generalizada devido às garantias de resgate que o governo fornece às instituições financeiras; ou seja, é mais um problema criado pelos próprios governos].

 

Seu trabalho é altamente suspeito do ponto de vista da teoria económica e é derivado do ponto de vista da história e das ciências sociais. Eles negligenciam a situação geral que estão a tentar explicar, o papel das instituições e os fundamentos da intervenção governamental. Por exemplo, o trabalho de Bernanke não explica por que a “situação” ocorreu, o que o governo fez desde o início ou como isso poderia ser evitado no futuro, exceto pelo governo cada vez maior e pela intervenção do Fed.

 

Sua pesquisa é pouco mais do que uma desculpa para socorrer os bancos. Portanto, se você é um membro das elites financeiras privilegiadas, a bolha imobiliária e a crise financeira que se seguiu [Nota do editor: criada pelo próprio Fed e pelo governo dos EUA]  foram ótimas. Você ganhou muito dinheiro durante as bolhas do mercado imobiliário e de ações e, em seguida, seus bancos receberam vários resgates e privilégios especiais durante a crise, incluindo empréstimos a taxas de juros de 0% em empréstimos, infusões de capital, Quantitative Easing 1 e 2 [e 3] e pagamentos de juros sobre “excesso reservas” [Nota do editor: Veja aqui, nas páginas 21 a 39, detalhes sobre como o Fed e o governo dos EUA criaram a crise financeira de 2008 e como resgataram, através das “brilhantes” ideias de Bernanke et al, as instituições financeiras à custa do enfraquecimento da economia que se segue até hoje].

 

Claro, o mais importante, você tinha seu homem encarregado do Federal Reserve, o homem que literalmente “escreveu o livro” e a dissertação, sobre como o Fed deve resgatar os bancos em tempos de problemas económicos. Não importa o quão mal todos os outros se saíssem, você poderia contar com Bernanke para resgatar os bancos, quaisquer que fossem os custos para os outros.

 

A Grande Depressão é um evento crucial na história americana e também é crucial em termos de teoria e política económica. Os escritos de Bernanke são fundamentais em termos de redirecionamento da política de resgate do governo da política monetária para resgates bancários.

 

O trabalho de Milton Friedman argumentou que o Fed permitiu que a oferta de dinheiro entrasse em colapso no início da década de 1930 porque não fez o suficiente para injetar dinheiro na economia. Porém, Joseph Salerno mostrou que o Fed foi agressivo ao tentar manter a oferta de dinheiro a crescer, mas falhou. O trabalho de Bernanke mostra que os bancos faliram em grande número no início da década de 1930 e, devido às expectativas negativas dos bancos (e o desaparecimento de muitos deles), passaram a não ser um canal eficaz do desejo do Fed de aumentar a oferta de dinheiro. Os bancos tornaram-se assim “sistemicamente importantes”.

 

Cada grande linha de pensamento económico tem sua própria história da Grande Depressão, com Friedman e Bernanke representando os monetaristas (Bernanke fornecendo o “choque” que forneceu a “força” ao modelo Fed-piloted de Friedman, conforme explicado pelo professor Garrison).

 

Os keynesianos, é claro, têm a Teoria Geral de Keynes (1936). Ele [afirmou] que a depressão foi causada por uma falha da demanda agregada: as pessoas não estavam dispostas a gastar e investir, fazendo com que a economia se contraísse por um caminho psicológico (sem nenhuma causa fundamental) necessitando, assim, de intervenção do governo para sustentar a economia. Esta é a mesma “explicação” que você ouviria do seu merceeiro, barbeiro ou balconista do posto de gasolina. Peter Temin preencheu essa narrativa histórica em seu livro As Forças Monetárias Causaram a Grande Depressão? (1976) onde ele sugere que a causa foi uma diminuição da demanda por dinheiro.

 

O debate entre monetaristas e keynesianos transformou-se em disputas sobre oferta e demanda agregadas, especificações de modelos, resultados empíricos e causa e efeito.

 

A escola austríaca tem sua própria abordagem macroeconómica, e isso pode ser visto claramente no caso da Grande Depressão. Ludwig von Mises [o principal autor da Escola Austríaca na época] escreveu sobre a chegada da depressão antes que ela acontecesse e o que estava a provocá-la. Em sua época, Irving Fisher [Monetarista] era o principal economista dos EUA e Mises mostrou que a ideia de Fisher de um dólar administrado pelo Fed foi a causa da depressão. Explico este episódio como evidência da superioridade da Teoria Austríaca dos Ciclos Económicos (TACE). Lionel Robbins (1932) escreveu um relato contemporâneo da Grande Depressão baseado na TACE [Nota do editor: veja aqui algumas diferenças entre as linhas de pensamento económico austríaca, monetarista e keynesiana].

 

O livro America’s Great Depression, de Murray Rothbard, fornece uma visão abrangente das implicações económicas e políticas do evento do ponto de vista austríaco. Primeiro, Rothbard mostra que as políticas do Fed na década de 1920, com base nas opiniões de Fisher, foram a causa económica fundamental da depressão. Foi o Fed que estava a inflar a oferta monetária durante a década de 1920 e foi o Fed que recentemente assumiu a recém-criada função de “emprestador de última instância”, a incentivar, assim, os banqueiros a assumir mais riscos e a tornar o sistema bancário de reservas fracionárias mais instável.

 

Em segundo lugar, a ação política de Hoover, Roosevelt e outros fez com que a depressão fosse grande, em sua tentativa de manter preços e salários altos, com regulamentações, tarifas, sustentando recursos mal investidos por meio da Reconstruction Finance Corporation e persuasão moral. Terceiro, a ação política na década de 1930 para manter os gastos altos e reestruturar a economia americana com as políticas do New Deal prolongaram o tempo de recuperação. Além disto, Robert Higgs mostrou que a Segunda Guerra Mundial não nos tirou da Grande Depressão [Nota do editor: alguns economistas Keynesianos afirmam os gastos do governo com II Guerra Mundial tiraram os EUA da grande depressão – já que afirmam que gastos do governo aumentam a demanda agregada e que uma diminuição desses gastos gera desemprego; porém, como podemos ver aqui e aqui, a grande depressão só acabou após a II Guerra Mundial, quando houve um corte significativo de gastos do governo americano].

 

Enquanto Bernanke et al recomendam e endossam políticas de resgate, a escola austríaca busca uma compreensão melhor e mais completa, além de questionar a eficácia de tais resgates. A causa da Grande Depressão foi a política monetária inflacionária do Fed na década de 1920. As políticas do New Deal de Hoover e Roosevelt que expandiram o papel do governo na década de 1930 não impediram ou reduziram o impacto da depressão, apenas a tornaram mais grave.

 

Para resolver o problema fundamental em que Bernanke [Nota do editor: veja aqui várias vezes em que Bernanke disse, entre 2005 e 2007, que não havia problemas no mercado imobiliário americano e que não havia possibilidade de uma crise financeira. Ou ele estava a mentir, o que acho mais provável, ou realmente não sabia do que falava], Diamond e Dybvig fixaram-se e que qualquer banqueiro pode explicar, não é necessária uma extensa colcha de retalhos de regulamentação, controlos e resgates governamentais, mas apenas um regime monetário sólido de dinheiro e bancos sem um banco central [e sem outras intervenções governamentais].

 

 

Artigo originalmente publicado no Mises Institute.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Mark Thornton é Senior Fellow no Mises Institute. É o editor do Quarterly Journal of Austrian Economics, autor de sete livros e é um convidado frequente em programas de rádio americanos.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigo não necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e do tradutor/editor deste artigo.

Etiquetas :

Sem categoria

Partilhar :

Deixe um Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *


The reCAPTCHA verification period has expired. Please reload the page.