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Daniel Lacalle | Os Estímulos Monetários dos Últimos Anos Devem Provocar uma Estagflação em 2023

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Depois de mais de US$ 20 trilhões em planos de estímulo desde 2020, a economia está estagnada, com inflação de preços elevada. Os governos globais anunciaram mais de US$ 12 trilhões em medidas de estímulo apenas em 2020, e os bancos centrais inflaram seu balanço patrimonial em US$ 8 trilhões.

 

O resultado foi dececionante e com efeitos negativos duradouros. Recuperação fraca, dívida recorde e inflação de preços elevada. É claro que governos de todo o mundo culparam a invasão à Ucrânia pelo efeito multiplicador inexistente dos planos de estímulo, mas a desculpa não fazia sentido.

 

Os preços das commodities aumentaram de fevereiro a junho de 2022 e foram corrigidos desde então. Mesmo considerando o efeito negativo do aumento dos preços das commodities nas economias desenvolvidas, devemos reconhecer que esses são positivos para as economias emergentes e, mesmo com esse impulso, a dececionante recuperação levou a constantes rebaixamentos das estimativas.

 

Se existissem multiplicadores keynesianos [Nota do editor: veja o que é o multiplicador Keynesiano aqui, aqui e aqui], a maioria das economias desenvolvidas estaria a crescer fortemente mesmo descontando o impacto da invasão à Ucrânia, considerando a quantidade sem precedentes de planos de estímulo aprovados.

 

Agora enfrentamos um 2023 com estimativas ainda mais dececionantes. De acordo com a Bloomberg Economics, o crescimento global diminuirá de fracos 3.2% em 2022 para preocupantes 2.4% em 2023 (significativamente abaixo da tendência pré-covid-19, mas com maior dívida global). A dívida global total aumentou US$ 3.3 trilhões no º trimestre de 2022, atingindo um novo recorde de mais de US$ 305 trilhões (principalmente devido à China e aos EUA) de acordo com o Institute of International Finance – IIF.

 

No entanto, as estimativas de consenso mostram uma perspetiva ainda pior. O crescimento global deve estagnar em +1.8%, com a zona euro em crescimento zero e os Estados Unidos em apenas 0.3% (com a inflação de preços atingindo 6% globalmente, 6.1% na zona euro e 4.1% nos Estados Unidos).

 

Espera-se que apenas um punhado de países reduza a dívida em 2023, com a maioria das nações continuando a financiar gastos governamentais inchados com défices orçamentários elevados e aumento de impostos. Um mundo onde os governos estão constantemente a corroer o poder de compra das moedas e a reduzir a renda disponível dos pagadores de impostos com o aumento dos impostos provavelmente mostrará tendências de crescimento mais fracas e desequilíbrios cada vez maiores.

Não há sucesso na estagflação [Nota doe editor: estagflação refere-se a uma situação de inflação de preços elevada + recessão ou estagnação económica, como aconteceu nos EUA na década de 1970]. É um processo de empobrecimento que prejudica imensamente as classes médias enquanto os gastos excessivos do governo nunca são contidos.

 

2022 foi o ano que matou a MMT (Modern Monetary Theory), a Teoria Monetária Moderna [Nota do editor: veja o que a MMT defende aqui e aqui] . Países com soberania monetária como o Japão ou o Reino Unido se viram em uma turbulência sem precedentes criada pela ilusão de que o aumento do défice orçamentário e da dívida nunca causaria problemas significativos. Bastaram alguns aumentos das taxas de juro para desmantelar a ilusão da impressão perene de dinheiro como a solução para tudo.

 

2022 também mostrou que é falso que défices orçamentários maciços fortalecem a economia. Os Estados Unidos sofreram o mais duro golpe inflacionário em trinta anos, mesmo sendo independentes em energia e se beneficiando da exportação de gás natural e petróleo para o resto do mundo. Se a ridícula narrativa da MMT fosse verdadeira, os Estados Unidos não deveriam ter sofrido nenhuma pressão inflacionária.

 

Espera-se que 2023 seja o ano da estagflação. Claro, a maioria dos estrategistas está a apostar na queda rápida da inflação de preços na segunda parte do ano, mas isso parece inconsistente com suas estimativas de défices orçamentários e crescimento.

 

A realidade desconfortável é que as nações criaram um declínio duradouro ao forçar os limites das políticas do lado da demanda e da intervenção do governo.

 

Muitos comemoraram a decisão de usar governos e bancos centrais como credores de primeira instância, em vez de última instância, e o que se criou é um problema de difícil solução.

 

Parece não haver incentivo para reduzir os desequilíbrios fiscais e monetários construídos ao longo de duas décadas e, portanto, o resultado será um crescimento mais fraco e empobrecimento.

 

Nenhum governo quer reconhecer o risco de os bancos centrais reduzirem seu balanço. Mesmo o estrategista mais agressivo não ousa estimar um aperto monetário de três trilhões de dólares porque todos sabem que os efeitos podem ser devastadores. No entanto, para realmente normalizar, os bancos centrais devem reduzir seu balanço em pelo menos cinco trilhões de dólares americanos. Governos e bancos de investimento temem um aperto gradual de três trilhões porque isso pode levar a uma crise financeira. Esses mesmos participantes do mercado sabem que um aperto de cinco trilhões levaria a uma crise financeira.

 

A razão pela qual todos esperam um 2023 dividido em duas partes (uma primeira metade de dados ruins e uma segunda onde o crescimento aumenta e a inflação de preços despenca) é porque os participantes do mercado precisam criar uma narrativa que mostre uma solução rápida para o desastre mencionado acima. No entanto, não há solução rápida, não há aterrissagem suave e não há chance de resolver o problema mantendo défices orçamentários elevados, balanços de bancos centras [inchados] e taxas de juros reais negativas. Se quisermos ver as opções, há apenas duas: consertar o problema criado em 2020(o que significa uma recessão global, mas provavelmente não uma crise financeira) ou não corrigi-lo (o que significa inflação de preços elevada, crescimento mais fraco e outro ano ruim para ativos arriscados que podem levar a uma crise financeira).

 

Infelizmente, quando governos de todo o mundo decidiram “gastar agora e lidar com as consequências depois” em 2020, também criaram as sementes de um problema no estilo de 2008.

 

 

Artigo originalmente publicado em dlacalle.com.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestor de fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escape from the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). É professor de economia na IE Business School em Madrid.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigo não necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e do tradutor/editor deste artigo.

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