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Daniel Lacalle | “Gaste Agora, Lide com as Consequências Depois” é a Pior Política

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Governos e bancos centrais tornaram-se o emprestador de primeira em vez de última instância [Nota do editor: os bancos centrais serem um emprestador de última instância significa que, caso haja uma turbulência significativa no mercado financeiro a ponto de os bancos poderem entrar em falência, o banco central provê liquidez aos mesmos – o que é irônico, pois são os próprios bancos centrais, ao fazerem intervenções deste tipo e expansões artificiais de crédito, que geram crises económicas e financeiras] e isto é imensamente perigoso. A dívida global dispara, a taxa de inflação aumenta e muitas das chamadas “ruturas da cadeia de suprimentos” são o resultado da zumbificação após anos subsidiando a baixa produtividade e penalizando a alta produtividade com aumento de impostos.

 

Há muitas razões pelas quais as nações não devem “gastar agora e lidar com as consequências mais tarde”. Primeiro, os gastos são feitos por políticos, que não serão responsabilizados pelo mau investimento e pelas decisões imprudentes de gastos. Além disto, o custo será sempre pago pelos pagadores de impostos e pelas empresas.

 

Pense na ironia de promover uma “Lei de Redução da Inflação” que significa gastar mais e monetizar mais dívidas. Mas é ainda mais irônico lançar uma “Lei de Redução da Inflação” depois de criar uma inflação maciça com planos de estímulo de vários trilhões de dólares e expansão do balanço do banco central. O governo se apresenta como a solução para os problemas que cria e repassa a conta duas vezes aos pagadores de impostos.

 

Em segundo lugar, os governos são extremamente ruins em escolher vencedores, mas ainda piores em escolher perdedores. Subsídios e concessões são frequentemente direcionados a setores obsoletos ou politicamente favorecidos, o que, por sua vez, leva ao aumento de empresas zumbis. Os gastos do governo para “salvar” negócios tendem a apoiar aqueles que já estão altamente endividados e com desafios relevantes para pagar suas dívidas. Isto é ruim, mas escolher perdedores é ainda pior. O mundo não teria uma crise alimentar e energética por causa de uma disrupção vinda de países que significam menos de 10% da oferta se a regulamentação e as leis não tivessem colocado enormes encargos sobre o investimento na agricultura, energia e comércio em geral.

 

Terceiro, o impacto negativo supera o positivo. Lembro-me de uma conversa com Judy Shelton em que ela mencionou em 2021 como a economia dos EUA seria mais forte se não tivesse implementado o plano de estímulo. Ela estava certa. Os enormes planos de gastos criaram um défice estrutural insuperável, pois muitos programas são consolidados e aumentados, e o impacto negativo sobre o crescimento, a inflação e os salários reais apenas um ano e meio depois são inegáveis.

 

É inegável que as economias saem de todas as crises com maior endividamento, menor crescimento, menor crescimento dos salários reais e menor geração de empregos. No entanto, de alguma forma, as pessoas pensam que da próxima vez será diferente. Disseram o mesmo sobre 2020. E foi diferente. As pessoas receberam dinheiro do governo e pagaram por isto através de inflação de preços mais alta e mais impostos.

 

Os críticos podem dizer que isto é fácil de dizer em uma recuperação, mas como explicamos aos cidadãos que os governos não devem fazer nada? Aqui reside outro dos truques dos intervencionistas. Nós nos acostumamos com a ideia de que, se o governo não gasta massivamente em uma crise, então não está fazendo “nada”. Enormes políticas do lado da demanda são essenciais mesmo quando o problema não tem nada a ver com a demanda. Pior ainda, um plano de trilhões de dólares deve ser seguido por um de dois trilhões ou parecerá muito pequeno, não importa qual seja o problema do resultado.

 

As políticas não devem ser julgadas por suas intenções, como disse Milton Friedman, mas por seus resultados. E quando os resultados são tão ruins quanto os que temos presenciado há quase duas décadas, devemos alertar sobre essa constante decisão de gastar mais.

 

Por que é tão perigoso usar bancos centrais e governos como credor e solução de primeira instância? Porque o principal recurso para implementar essas políticas é você. Sua riqueza. A expropriação da riqueza é o outro lado da moeda da “política social”. Impostos e inflação, ou ambos. Alguns leitores podem pensar que é uma ideia inteligente expropriar a riqueza dos ricos para sustentar a economia, mas agora eles devem saber que é uma mentira. Quando você dá poderes extraordinários a um governo baseado na ideia de que roubar dos ricos é válido, você está a dar poder aos políticos para roubar de você também. E eles fazem. Não há um único exemplo de planos de gastos governamentais maciços financiados com impostos mais altos sobre os ricos que não acabaram significando impostos mais altos para todos ou mais inflação, o imposto sobre os pobres [Nota do editor: veja os pobres são os mais prejudicados pela inflação aqui].

 

Quando você lê “gaste agora, lide com as consequências depois” o que você está a ler é “dê-me sua carteira porque você vai lidar com o saldo do cartão de crédito mais tarde”.

 

Da próxima vez que você ler a temida frase que dá título a este artigo, lembre-se: não há nada que o governo dê “de graça” que você não pague de uma forma ou de outra.

 

 

Artigo originalmente publicado no site do Daniel Lacalle.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestor de fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escape from the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). É professor de economia na IE Business School em Madrid.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigo não necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e do tradutor/editor deste artigo.

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