Os políticos europeus estão ansiosos paraserem vistos como se estivessem “a fazer algo” para se opor ao governorusso após a invasão da Ucrânia por Moscovo. A maioria dos governos europeusconcluiu sabiamente (apesar da imprudência polonesa e báltica) que provocar um conflito militar com aRússia com armas nucleares não é uma boa ideia. Assim, “fazer algumacoisa” consiste principalmente em tentar punir Moscovo privando oseuropeus dos tão necessários petróleo e gás russos.
O problema é que esta tática não faz muitopara deter a Rússia a não ser no curto prazo, porque o petróleo russo podevoltar-se para vários mercados fora da Europa. A maior parte do mundo, afinal,recusou-se a participar dos embargos e sanções comerciais dos EUA e da Europa,optando por abordagens mais comedidas.
Ao limitar as fontes de energia para oseuropeus, no entanto, os governos da Europa provavelmente conseguirão aumentaro custo de vida dos europeus, fazendo pouco para cortar a economia da Rússiados mercados globais.
– Pode a Europa Cortar-se Totalmente?
Por razões compreensíveis, a maioria dos governoseuropeus relutou em isolar-se completamente do petróleo e do gás russos. Istoocorre porque a Europa tornou-se cada vez mais dependente do gás natural russoà medida que os governos da Europa se comprometeram cada vez mais com fontes deenergia “renováveis” não confiáveis. Este é especialmente o caso daAlemanha (a maior economia da Europa), que deve enfrentar uma “forterecessão” se cortar o gás russo. Muito se falou em sanções pesadas contra aRússia, mas isto não chegou a uma proibição total das importações russas depetróleo e gás.
No entanto, o Parlamento Europeu começou, nasemana passada, a elaborar um plano para um embargo total de petróleo e gásrussos.
No entanto, mesmo com o aumento da pressãopara que os governos europeus sejam vistos “estando a fazer algo” mais contraMoscovo, os políticos europeus querem proceder devagar. Isto, no entanto, só dáa Moscou mais tempo para ajustar a logística para transferir as exportações depetróleo para outras partes do mundo.
Se a Europa banisse totalmente o petróleoimediatamente, isto faria os preços do petróleo dispararem para a Europa eoutros. De acordo com analistas do JP Morgan:
“Um embargo total e imediato deslocaria 4milhões de barris por dia de petróleo russo, levando o petróleo Brent para US$185 por barril, pois tal proibição não deixaria ‘nem espaço nem tempo pararedirecionar [os suprimentos] para a China, Índia ou outros potenciaiscompradores substitutos’, disse o banco de investimento. Isto marcaria umaumento de 63% em relação ao fechamento de US$ 113.16 do Brent nasegunda-feira.”
Isto pode desencadear recessões nas economiasda Europa, e os políticos sabem disto. A Hungria, por exemplo, opôs-serepetidamente a um embargo ao petróleo russo por preocupações com os húngaroscomuns, que já têm um padrão de vida bem inferior ao de países mais ricos, comoAlemanha e França. Enquanto isto, os políticos franceses programaramconvenientemente um embargo após as eleições francesas deste ano.
Mesmo além do curto prazo, os problemas dopetróleo para a Europa não necessariamente terminariam, porque a Organizaçãodos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) já declarou que não pode produzirpetróleo suficiente para substituir o petróleo russo.
De qualquer forma, a Europa não parece estar aconseguir convencer a OPEP a fazer muito para punir ou isolar a Rússia dosmercados de petróleo. O governo saudita só anunciou maior cooperação com aRússia nos últimos meses, e a guerra na Ucrânia não parece ser um temaimportante para a OPEP.
Isto não quer dizer que nada disto prejudicaráMoscovo. Será necessário tempo para modificar os mercados de petróleo russospara atender a outros consumidores fora da Europa, e isto significará uma quedadas receitas, pelo menos no curto prazo. Além disto, as sanções financeiras dosEUA tornam mais difícil para os comerciantes russos fazerem negóciosglobalmente.
Apesar da alegação do Ocidente de que este estáa travar algum tipo de guerra contra o autoritarismo, parece que os maioresbeneficiários dos crescentes embargos europeus ao petróleo russo são alguns dosregimes mais autoritários do mundo. Pequim aceitará alegremente os suprimentosde petróleo e gás que não são mais vendidos no Ocidente e, possivelmente, comdesconto, pois há cada vez menos mercados potenciais para o petróleo russo.Além disto, se os preços do petróleo forem impulsionados por deslocamentoscausados por embargos europeus, isto provavelmente beneficiará pelo menosalguns dos ditadores movidos a petróleo entre os membros da OPEP.
Enquanto isto, os cidadãos europeusprovavelmente pagarão muito mais pela energia – e, consequentemente, também poroutros bens e serviços. O risco de recessão também está a aumentar na Europa.
– Os Estados Unidos ao Resgate?
Como costuma acontecer, a Europa recorreu aosEstados Unidos para salvá-la mais uma vez. O governo Biden afirmou que podeenviar gás natural liquefeito (GNL) dos EUA para a Europa e substituir emgrande parte a Rússia no atendimento das necessidades energéticas da Europa.Mas não é tão simples. Como David Blackmon mencionou na Forbes:
“Embora comprometer os EUA a ajudar a Alemanhae outras nações europeias a se livrarem do gás natural russo pareça ser umobjetivo nobre, há apenas um problema: o presidente aparentemente não conversousobre isto com a indústria de GNL dos EUA antes de fazer o acordo. Ao ler ascitações de executivos da Tellurian no artigo do New York Times aqui, fica evidente que eles foram pegos de surpresa pelo anúncio do presidente. ‘Eunão tenho ideia de como eles vão fazer isto…’ ”
Na era de covid, os políticos sem dúvidaacostumaram-se a conjurar o que quiserem através do “milagre” deimprimir dinheiro. Mas no mundo real ainda é necessário produzir petróleo e gás(e outras commodities) por meio da produção física real. Também a complicar ascoisas é o facto de que as indústrias de petróleo e gás nos Estados Unidosainda estão em grande parte em mãos privadas. Isto significa que Joe Biden podeprometer o que quiser, mas o setor privado ainda terá de fazer o trabalho, e osincentivos de mercado podem não necessariamente favorecer a venda de tudo paraa Europa.
Nem mesmo a impressão de dinheiro pode fazercom que o petróleo e o gás apareçam magicamente do outro lado do Atlântico.
Em última análise, o frenesi de sanções eembargos perseguidos pelo “ocidente” pode fazer pouco mais do queaumentar o custo de vida de seus próprios moradores. Pior ainda são os efeitoscolaterais destas sanções para os países mais pobres da África e da Ásia,muitos dos quais precisam de grãos e petróleo russos para que seus moradoresvivam acima dos níveis de subsistência.
Estas políticas tornarão a vida mais difícilpara pessoas inocentes em todo o mundo, ao mesmo tempo em que não conseguemrealmente acabar com a guerra na Ucrânia. Mas este é um preço que homens ricoscomo Biden e Emmanuel Macron aparentemente estão dispostos a pagar.
Artigo originalmente publicado no Mises Institute.
Tradução e edição de André Marques.
Autor: Ryan McMaken é editor sénior do MisesInstitute. Ele possui bacharelado em Economia e mestrado em Políticas Públicase Relações Internacionais pela University of Colorado. Ele foi um economista dehabitação para o Estado do Colorado. É o autor de Commie Cowboys: The Bourgeoisie and the Nation-State in theWestern Genre.
Nota: As opiniões expressas neste artigo nãonecessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e dotradutor/editor deste artigo.