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Ryan McMaken | Federal Reserve Lança Programa de Resgate aos Bancos

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O Silicon Valley Bank (SVB) faliu e foi fechado pelos reguladores. Foi a segunda maior falência da história dos Estados Unidos e a primeira desde a crise financeira global de 2008. Quase imediatamente, os pedidos de bailout (resgate) começaram a chegar. Desde 10 de março, o First Republic Bank faliu e muitos outros bancos estão a enfrentar o colapso.

 

Em 9 de março, mesmo antes da falência do SVB, o investidor Bill Ackman foi ao Twitter para insistir que um “resgate federal deveria ser considerado” se o setor privado não pudesse salvar o banco. Horas após a falência oficial do SVB, Ackman ainda estava a fazer isso e, em um discurso de pânico de 646 palavras, ele exigiu que o governo federal “garantisse os depósitos do SVB” e essencialmente apoiasse todo o setor bancário para manter vivos os bancos falidos, ineficientes e mal administrados.

 

Agora, muitos leitores podem estar a dizer a si mesmos: “Pensei que os depósitos bancários fossem garantidos!” Isso, é claro, está correto. Mas os depósitos são segurados legalmente apenas até US$ 250 mil pela Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC). Dado que a maioria das pessoas normais mantém menos do que isso em suas contas bancárias, isso significa que a maioria dos usuários do banco não perderá seu dinheiro caso seus bancos quebrem. Além disso, é extremamente fácil adquirir seguro de depósito em muito mais de US$ 250 mil, simplesmente mantendo o dinheiro em mais de um banco. Esse limite de US$ 250 mil aplica-se aos depósitos em cada banco onde o depositante mantém fundos. Para clientes com alta necessidade de liquidez, o setor financeiro oferece ferramentas para lidar com o risco de ultrapassar os limites do FDIC.

 

Em uma ilustração da preguiça e arrogância que tanto caracterizam nossa classe financeira moderna, no entanto, muitos dos depositantes mais ricos do Silicon Valley Bank não se incomodavam em administrar seus depósitos e basicamente ignoravam as regras de seguro de depósito que até uma criança de 10 anos compreende ao abrir sua primeira conta bancária.

 

Como resultado, muitos investidores de risco e outros clientes ricos do SVB têm muito dinheiro. Pelo menos, eles poderiam perder muito dinheiro antes da noite de domingo, quando o Federal Reserve – Fed [o banco central dos EUA] anunciou o “Bank Term Funding Program” (BTFP), que promete inundar o sistema bancário com dinheiro [criado do nada, ou seja, fruto de expansão monetária] e fortalecer as finanças pessoais dos depositantes ricos.

 

Isso faz parte de um esforço duplo para fazer com que os bancos pareçam financeiramente mais sólidos e para expandir consideravelmente os pagamentos do FDIC aos depositantes que têm seus fundos nesses bancos.

 

A propaganda oficial que sai do governo e dos habituais fanboys do Fed é que nada disso é um resgate. Isso é uma mentira. As novas medidas tomadas pelo Fed e pelo departamento do Tesouro do FDIC são, em última análise, resgates para bilionários e outros depositantes ricos. Além disso, esse novo programa exigirá pelo menos um retorno parcial do quantitative easing [compra de ativos pelo banco central através da expansão monetária]. Não há como garantir somas tão vultosas de dinheiro sem ter de recorrer mais uma vez à política monetária inflacionária. Isso também significa que a inflação de preços não vai desaparecer. Eis o porquê.

 

– Sustentando os Preços dos Ativos com Expansão Monetária

 

A primeira ponta do plano de resgate é usar empréstimos de custo extremamente baixo para despejar mais dinheiro nos bancos, a fim de torná-los financeiramente mais sólidos. A ideia aqui é evitar o pânico dos depositantes sobre depósitos não garantidos antes que comece. A primeira indicação de que esse esquema é um resgate vem do texto do comunicado de imprensa sobre a criação do BTFP, que afirma que o novo programa irá “oferecer empréstimos de até um ano a bancos, associações de poupança, cooperativas de crédito e outras instituições depositárias elegíveis, usando títulos do Tesouro dos EUA, dívidas de agências, títulos lastreados em hipotecas [mortgage-backed securities – MBS] e outros ativos qualificados como garantia. Esses ativos serão avaliados no valor de face. O BTFP será uma fonte adicional de liquidez contra títulos de alta qualidade, eliminando a necessidade de uma instituição vender rapidamente esses títulos em momentos de estresse.”

 

A frase-chave é “Esses ativos serão avaliados ao valor de face”. Isso é importante porque esses bancos estão a enfrentar enormes perdas não realizadas [Nota do editor: perdas não realizadas significam que a instituição possui ativos cujos valores estão menores em relação ao de quando foram adquiridos pela mesma. Isso significa que, caso a instituição vendesse esses ativos, teria prejuízo], muitas decorrentes de perdas em ativos cujos preços de mercado despencaram com o aumento das taxas de juros [Nota do editor: o aumento das taxas de juros provoca uma queda dos preços dos títulos, especialmente aqueles de longa duração]. Parte da razão pela qual esses bancos estão com problemas é porque seus ativos já não valem nem perto do valor de face no mercado:

 

Figura 1 – Ganhos ou Perdas não Realizadas dos Ativos

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Ativos Mantidos até a Maturidade (Azul); Ativos Disponíveis para Venda (Amarelo).

Fonte: FDIC.

 

No entanto, o Fed decidiu simplesmente declarar que os ativos dos bancos estão pelo valor de face e, portanto, muito mais valiosos do que realmente são. Isso permitirá que os bancos usem esses ativos como colateral a preços imaginários (mais altos).

 

Além disso, os termos dos empréstimos do BTFP reiteram como esses empréstimos são projetados para entregar dinheiro aos bancos com pouco retorno. Segundo o Fed, “não há taxas associadas aos programas” e não há multa por pré-pagamento. Os bancos estrangeiros também são elegíveis, a propósito. E, claro, “o Departamento do Tesouro . . . [irá] fornecer US$ 25 mil milhões como proteção de crédito.” Se a história serve de guia, podemos esperar que o backstop do Tesouro fique muito maior. Se e quando alguns desses bancos deixarem de pagar os empréstimos, a garantia não chegará nem perto de cobrir o valor dos empréstimos. Os bancos estão essencialmente a receber dinheiro de graça.

 

De onde virá o dinheiro para conceder esses empréstimos? Será [gerado do nada, via expansão monetária], claro. O Fed já está falido e não tem dinheiro sobrando. O Fed não pode simplesmente começar a vender seus US$ 8.5 trilhões em Treasurys [títulos de dívida pública federal dos EUA] e MBS para conseguir dinheiro. Isso reduziria ainda mais os preços desses ativos e tornaria os balanços dos bancos (que também possuem Treasurys e MBS) ainda piores. Assim, novos empréstimos e garantias terão de vir de dinheiro [recém-criado]. Outra expressão para isso é “inflação monetária”.

 

– O FDIC Precisará de um Resgate

 

A segunda parte do resgate é a promessa do FDIC de cobrir todos os depositantes em bancos com problemas, e não apenas aqueles com depósitos até o limite usual. A narrativa daqueles que dizem que isso não é um resgate afirma que a nova expansão prometida do seguro será toda financiada pelas taxas do FDIC e não impõe custos aos pagadores de impostos. “Os bancos vão pagar isso”, dizem.

 

Não é assim que vai funcionar de verdade. Neste vídeo de três minutos, Peter St. Onge explica o verdadeiro problema.

 

St. Onge menciona que o fundo disponível do FDIC para depósitos é inferior a US$ 130 mil milhões. No entanto, os depósitos em bancos americanos totalizam aproximadamente US$ 22 trilhões. O fundo do FDIC é igual a cerca de 0.6% de todos os depósitos. E parece que mesmo nos bancos com a maior proporção de contas cobertas pelo FDIC, apenas 42% dos depósitos são cobertos por seguro. Portanto, claramente, estender a cobertura do FDIC a todos os depósitos significa que o FDIC não terá nem perto dos fundos necessários para cobrir possíveis perdas dos depositantes. O FDIC nunca teve a intenção de garantir aos ricos depósitos que excedam os máximos de seguro do FDIC. No entanto, é exatamente isso que está a acontecer agora.

 

Quando o FDIC fica sem dinheiro, o que acontece? O FDIC corre para o Tesouro dos EUA para obter um resgate. De onde vem o dinheiro para resgatar o FDIC? Vem de receitas fiscais correntes ou de dinheiro emprestado. De qualquer maneira, os pagadores de impostos pagam. Além disso, se o Fed intervir para comprar parte dessa nova dívida do governo (para manter baixos os juros dos títulos de dívida federais), os pagadores de impostos também pagarão por meio do imposto inflacionário [preços maiores decorrentes da expansão monetária].

 

Quando consideramos tudo isso, podemos ver como funciona a fraude: o Fed ou o Departamento do Tesouro cria um “fundo” e afirma que será financiado por taxas e outras fontes de receita não tributárias. Assim, quando o FDIC ou o Fed correm para socorrer os bancos, os políticos podem alegar que os pagadores de impostos não pagarão nada. Isso só é verdade se os próprios programas não receberem respaldo do Tesouro ou da inflação monetária. Mas se aprendemos alguma coisa desde 2008, é que todos esses programas desfrutam de garantias implícitas de apoio do pagador de imposto e que qualquer “limite” desses valores pode ser aumentado a qualquer momento.

 

– Espere mais Inflação de Preços

 

Em qualquer caso, o pagador de impostos comum certamente sentirá a dor em termos de inflação de preços. Os atuais esforços de resgate são inflacionários e opõem-se totalmente às recentes tentativas do Federal Reserve de contração monetária. O objetivo dos resgates, afinal, é afrouxar as condições financeiras dos bancos. Portanto, o Fed quase certamente estará a recuar de tudo o que planeou em termos de aumento da meta de taxa de juros e redução de seu balanço na próxima reunião do comité de política monetária. Agora, o Fed estará a analisar qualquer estratégia que possa encontrar para aumentar o fluxo de dólares para os bancos, e isso significará mais criação de dinheiro (mesmo que a posição oficial do Fed permaneça ostensivamente agressiva). Em outras palavras, prepare-se para uma inflação de preços mais estabelecida. Mas não se esqueça de que o foco principal de tudo isso é resgatar os depositantes e banqueiros ricos. Acima de tudo, não há garantia de que funcione. Há uma razão para os tecnocratas financeiros estarem em pânico. Eles não sabem o que vai acontecer a seguir.

 

 

Artigo originalmente publicado no Mises Institute.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Ryan McMaken é editor sénior do Mises Institute. Ele possui bacharelado em Economia e mestrado em Políticas Públicas e Relações Internacionais pela University of Colorado. Ele foi um economista de habitação para o Estado do Colorado. É o autor de Commie Cowboys: The Bourgeoisie and the Nation-State in the Western Genre.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigo não necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e do tradutor/editor deste artigo.

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