Daniel Lacalle | Os Bancos Centrais Não Podem Diminuir as Compras de Ativos


Os recentes dadosmacroeconómicos dos Estados Unidos devem deixar-nos preocupados. Em meio àsreaberturas e ao maior estímulo fiscal e monetário da história recente, aconfiança do consumidor despencou para o nível mais baixo desde 2016.


As vendas do retalho/varejocaíram acentuadamente novamente em julho, e os dados de emprego ou produçãoindustrial são muito mais do que dececionantes, considerando o nível deestímulo e que o PIB voltou ao nível pré-pandêmico.


A utilização dacapacidade industrial, em 76%, está 4% abaixo da média para o período 1972-2020.E a taxa de participação no trabalho, de 61.6%, estagnou há dez meses e nosníveis de 1980. A taxa depoupança total em percentagem da renda disponível quase desapareceu, de 33.8%para 9.4%.


Vamos colocarisso no contexto de uma reabertura que já existe há mais de um ano, um estímulofiscal equivalente a três mil bilhões/trilhões de dólares e um estímulomonetário de 1.7 mil bilhão/trilhão de dólares em 2021. Os Estados Unidosentrariam em uma severa recessão se a economia não estivesse a utilizar“doping”.


Não podemosignorar a desaceleração da China, onde até mesmo os dados oficiais refletem umadesaceleração do processo de expansão. Se tomarmos a diferença típica entre osdados oficiais e reais, veremos que, por exemplo, a formação bruta de capitaldesacelerou rapidamente em 2021.


Isso é importanteporque toda a recuperação da zona euro depende do impulso fiscal e monetário,além do Fundo de Recuperação Europeu.


A recuperação da zonaeuro mantém algum ímpeto positivo simplesmente porque está mais atrasada. O PIBda zona euro ainda está 4% abaixo dos níveis pré-pandêmicos (7% no caso daEspanha) e o emprego está bem abaixo dos níveis de economias comparáveis,considerando que devemos somar os trabalhadores com layoffs temporários queainda estão acima de seis milhões. O desemprego, em 7.1% estimado para agosto, estáa recuperar-se lentamente.


Estes dadosreforçam minha visão de que os bancos centrais manterão sua política ultra-expansionista,com mudanças muito modestas. A redução será provavelmente mais cosmética do quereal, e as taxas de juros permanecerão baixas (no caso da zona euro, serãonegativas). O facto de o balanço do Federal Reserve ter se expandido ainda maisenquanto as autoridades falavam sobre a redução reforça esta visão.


A ameaça deescalada da tensão internacional após o golpe do Taliban no Afeganistão soma-seao impacto da variante delta, que ficará mais evidente no inverno, comoaconteceu em 2020.


O importante éentender que, do ponto de vista do investidor, provavelmente já ultrapassamos opico da recuperação e os setores mais cíclicos já têm descontado o momento dedesaceleração.

 

A situação fiscalinsustentável dos países desenvolvidos torna impossível uma normalização sériada política. O BCE é o único comprador da dívida italiana e espanhola, segundoo IIF (Institute of International Finance), o que disfarça um risco iminente,mas não o elimina.

 

A inflação,grande ameaça à recuperação, continua elevada e, embora alguns componentes estejammais moderados, os fatores mais importantes para o consumidor médio, os bensnão replicáveis, permanecem bem acima dos níveis de 2015.


Os bancoscentrais se deparam com a alternativa do diabo criada por sua própria política.Deixar a inflação correr e criar um problema de estagflação ou assustar osmercados ao reduzir as compras de ativos. Eles vão escolher o primeiro, semdúvida.

 


Artigo originalmente publicado no site doDaniel Lacalle.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Daniel Lacalle é um economista egestor de fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escape from the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). É professor de economia na IE Business School em Madrid.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigonão necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e dotradutor/editor deste artigo.

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