Daniel Lacalle | O Desemprego “Shadow” Europeu é um Verdadeiro Problema

O último relatório de empregos dos Estados Unidos mostra pontos fortes e fracos. O total de empregos fora do setor agrícola teve um aumento de 223 mil em dezembro e a taxa de desemprego caiu para 3.5%. No entanto, o mercado de trabalho dos Estados Unidos continua a mostrar crescimento salarial real negativo [Nota do editor: veja mais aqui], a relação emprego-população é de 60.1% e a taxa de participação da força de trabalho é de 62.3%. De acordo com o Bureau of Labor Statistics (BLS), ambas as medidas mostraram pouca mudança desde o início de 2022 e cada uma permanece 1% abaixo de seus valores em fevereiro de 2020.

 

Os números do emprego nos Estados Unidos são constantemente dissecados por analistas e há uma saudável crítica em pesquisas independentes que certamente ajuda muito na hora de compreender a saúde do mercado de trabalho. No entanto, na União Europeia as coisas são muito piores.

 

Os últimos números do desemprego são muito preocupantes, mas o que é ainda mais preocupante é analisar o desemprego “shadow”. Em seu último relatório Economic Outlook or Europe 2023-24, a UBS mostra a diferença significativa entre o desemprego oficial na zona euro e o desemprego oculto proveniente de empregos suspensos e trabalhadores desocupados que não contam como desempregados oficiais. A taxa oficial de desemprego na zona euro continua elevada, em 6.5%. A maior taxa de desemprego está na Espanha (12.5%), seguida pela Grécia (11.4%) e Itália (7.8%).

 

O desemprego entre jovens também é extremamente elevado. O desemprego médio dos jovens na União Europeia é de 15.1%, liderado por Espanha (32.3%), Grécia (31.3%) e Itália (23%).

 

No entanto, o desemprego na zona euro, segundo a UBS, é de 8.8%, com a Espanha em 15%, a Itália em 8% e a Alemanha bem acima de 5% em comparação com os 3% oficiais.

 

Existem diversas formas pelas quais as economias europeias retiram os trabalhadores desocupados da taxa oficial de desemprego. Uma delas é deduzir do valor do desemprego aqueles que não estão a trabalhar, mas estão a receber treinamento, contratos de zero horas, mini empregos e aqueles que têm contrato de longo prazo, mas trabalham apenas alguns meses. Essas pessoas não aparecem como desempregadas, mesmo que tenham acesso a benefícios de desemprego.

 

Por mais que queiramos olhar para esses números, eles mostram os erros de um mercado de trabalho fortemente intervencionado e rígido. A primeira fonte de rigidez são os custos trabalhistas. Os altos impostos previdenciários e trabalhistas tornam mais difícil para as empresas reduzir o desemprego. A carga tributária sobre o trabalho é tão elevada em países como Espanha ou Grécia que uma empresa paga quase 1800 euros por um salário líquido de 1000. Se somarmos a uma alta carga tributária uma forte carga regulatória e penalidades, isso mostra que um sistema projetado para proteger os trabalhadores está, de facto, a deixar milhões para trás (principalmente os jovens).

 

Existem também barreiras importantes [a serem removidas] para reduzir o desemprego que impostos corporativos diretos e indiretos muito altos, bem como barreiras linguísticas e culturais.

 

O esquema de empregos suspensos da Europa foi amplamente elogiado como uma ótima maneira de proteger os trabalhadores durante os lockdowns equivocados [ocorridos na pandemia]. Embora certamente tenha reduzido a taxa de desemprego oficial, o desemprego “shadow”aumentou para 21.7%. Nos Estados Unidos, um mercado de trabalho muito flexível ainda fez com que o desemprego aumentasse para 14.7% em abril de 2020. No entanto, nos Estados Unidos a reabertura levou a uma rápida redução [do desemprego] com crescimento salarial mais rápido, enquanto na zona euro o crescimento salarial permaneceu fraco e continua negativo em termos reais (com perda significativa do poder de compra dos salários agravada pela disparada inflacionária em 2021-2022). Enquanto nos Estados Unidos o crescimento salarial real caiu 1.1% segundo o BLS, na zona euro o valor nominal no 3º trimestre de 2022 foi de apenas 2.1% de crescimento salarial (o que significa um valor real negativo de 6.8%).

 

São muitos os desafios a ter em conta e as comparações são sempre difíceis. Porém, há uma inegável tendência negativa na Europa que é consequência direta de uma intervenção cada vez maior na economia: desemprego de jovens elevado, desemprego muito mais elevado em países com mercados de trabalho rígidos face a mercados mais flexíveis, e uma tendência preocupante de destruição do poder de compra dos salários. Meus amigos nos Estados Unidos devem tomar nota. Se copiarem as políticas económicas europeias, obterão níveis de desemprego e salários reais europeus.

 

 

Artigo originalmente publicado em dlacalle.com.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestor de fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escape from the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). É professor de economia na IE Business School em Madrid.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigo não necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e do tradutor/editor deste artigo.

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