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Daniel Lacalle | O Colapso do Silicon Valley Bank (SVB) é uma Consequência Direta das Políticas Monetárias Expansionistas

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O segundo maior colapso de um banco na história recente depois do Lehman Brothers poderia ter sido evitado. Agora o impacto é muito grande e o risco de contágio é difícil de medir.

 

O colapso do SVB é fruto de uma corrida bancária clássica impulsionada por um evento de liquidez. Mas a lição importante para todos é que a enormidade das perdas não realizadas e o buraco financeiro nas contas do banco não teriam existido se não fosse por política monetária [expansionista]. Deixe-me explicar o porquê.

 

Em 31 de dezembro de 2022, o Silicon Valley Bank tinha aproximadamente US$ 209 mil milhões em ativos totais e cerca de US$ 175.4 mil milhões em depósitos totais. Seus principais acionistas são Vanguard Group (11.3%), BlackRock (8.1%), StateStreet (5.2%) e o fundo de pensão sueco Alecta (4.5%).

 

O incrível crescimento e sucesso do SVB não poderia ter acontecido sem taxas [taxas de juro] negativas, política monetária [expansionista] e a bolha [do setor de tecnologia, fruto de taxas de juro negativas e expansão monetária] que estourou em 2022. Além disso, o evento de liquidez do banco não poderia ter acontecido sem os incentivos regulatórios e de política monetária para acumular dívidas soberanas e títulos lastreados em hipotecas [as mortgage-backed securities – MBS].

 

A base de ativos do SVB é o exemplo mais claro do velho mantra “Não lute contra o [Federal Reserve – Fed, o bando central dos EUA]”. O SVB cometeu um grande erro: seguir exatamente os incentivos criados pela [política monetária expansionista] e regulamentação governamental.

 

O que aconteceu em 2021? Os depósitos do banco quase dobraram com o boom da tecnologia. Todos queriam um pedaço do novo paradigma tecnológico imparável. Os ativos do SVB também subiram e quase dobraram. Mais de 40 por cento eram Treasurys [títulos de dívida pública federal dos EUA] e MBS de longo prazo. O resto eram investimentos em tecnologia e capital de risco aparentemente conquistadores do mundo.

 

A maioria desses títulos e valores mobiliários de “baixo risco” foi mantida até o vencimento. O SVB estava a seguir o livro de regras dominante: ativos de baixo risco para equilibrar o risco em investimentos de capital de risco. Quando o Federal Reserve aumentou as taxas de juros, o SVB deve ter ficado chocado.

 

Toda a sua base de ativos era uma aposta única: taxas [de juro artificialmente] baixas e quantitative easing [expansão monetária] por mais tempo. Os valuations de ações tecnologia dispararam no período de política monetária [expansionista], e a melhor maneira de “proteger” esse risco era com Treasurys e MBS. Por que apostar em outra coisa? Isso é o que o Fed estava a comprar todos os meses. Esses eram os ativos de menor risco segundo todas os regulamentações. E, segundo o Fed e todos os economistas convencionais, a inflação [de preços ao consumidor] era puramente “transitória”. O que poderia dar errado?

 

A inflação [de preços] não era transitória e o dinheiro [vindo de expansão monetária] não era infinito.

 

Aumentos de taxas [de juro] aconteceram e o banco sofreu grandes perdas. [Os Treasurys e MBS sofreram quedas de preços, as ações de empresas de tecnologia caíram e o pânico se instaurou]. Houve uma boa e velha corrida bancária, apesar da forte recuperação das ações do SVB em janeiro. As perdas não realizadas de marcação a mercado de US$ 15 mil milhões [Nota do editor: perdas não realizadas significam que a instituição possui ativos cujos valores estão menores em relação ao de quando foram adquiridos pela mesma. Isso significa que, caso a instituição vendesse esses ativos, teria prejuízo] representaram quase 100% da capitalização de mercado do banco. Uma destruição.

 

[Nota do editor: o aumento das taxas de juros provoca uma queda dos preços dos títulos, especialmente aqueles de longa duração, que era o que o SVB possuía em grande quantidade em seus ativos.]

 

Como disse o gerente do banco no famoso episódio de South Park: “annnddd it’s gone”. O SVB mostrou com que rapidez o capital de um banco pode se dissolver diante de nossos olhos.

 

O Federal Deposit Insurance Corporation – FDIC [Nota do editor: o FDIC, uma instituição pública, é o fundo garantidor de crédito bancário dos EUA] intervirá, mas isso não é suficiente porque apenas 3% dos depósitos do SVB estavam abaixo de US$ 250 mil [Nota do editor: este é o limite supostamente garantido pelo FDIC por cada conta numa instituição]. De acordo com a revista Time, mais de 85% dos depósitos do Silicon Valley Bank não eram segurados.

 

Fica pior. 1/3 dos depósitos dos EUA estão em pequenos bancos e cerca de metade não têm seguro, segundo a Bloomberg. Os depositantes no SVB provavelmente perderão a maior parte de seu dinheiro, e isso também criará incerteza significativa em outras entidades.

 

O SVB seguiu uma política conservadora de adquirir os ativos mais seguros – títulos do Tesouro de longo prazo – à medida que os depósitos disparavam.

 

O SVB fez exatamente o que recomendaram aqueles que culparam a “desregulamentação” pela crise de 2008. O SVB era um banco conservador que investia seus crescentes depósitos em Treasurys e MBS, acreditando que a inflação [de preços] era transitória, como todos (exceto nós, a minoria louca) repetiam.

 

O SVB não fez nada além de seguir a regulamentação governamental, os incentivos da política monetária e as recomendações dos economistas keynesianos ponto a ponto. O SVB foi o epítome do pensamento económico dominante.

 

Muitos agora culparão a ganância, o capitalismo e a [suposta] falta de regulamentação governamental. Porém, mais regulamentação dos governos não teria feito nada porque a regulamentação e a política [monetária] incentivam a compra desses ativos de “baixo risco”. Além disso, a regulamentação e a política monetária são diretamente responsáveis pela bolha tecnológica. Os valuations cada vez mais elevadas das ações tecnologia e o fluxo de capital supostamente imparável para financiar inovação e investimentos verdes nunca teriam acontecido sem taxas de juro reais negativas e injeções maciças de liquidez. No caso do SVB, seu crescimento fenomenal em 2021 foi consequência direta da política monetária insana implementada em 2020, quando os principais bancos centrais aumentaram seus balanços para US$ 20 trilhões como se nada fosse acontecer.

 

O SVB é uma vítima da narrativa de que a impressão de dinheiro não causa inflação [de preços] e pode continuar para sempre.

 

O SVB investiu em toda a bolha de tudo: títulos soberanos, MBS e tecnologia. Eles fizeram isso porque eram estúpidos ou imprudentes? Não. Fizeram isso porque [tinham a impressão] de que havia muito pouco ou nenhum risco nesses ativos. Nenhum banco acumula risco em um ativo que acredita ser de alto risco. A única maneira pela qual os bancos acumulam risco é acreditando que não há risco. Por que eles não viram risco nesses ativos? Porque o governo, os reguladores do governo, os bancos centrais e os especialistas dizem que não há. Quem será o próximo?

 

Muitos culparão tudo, exceto os incentivos perversos e as bolhas criadas pela política monetária e regulamentação [governamental], e exigirão cortes nas taxas de juro e quantitative easing para resolver o problema. Só vai piorar. Não se resolve as consequências de uma bolha com mais bolhas.

 

O fim do Silicon Valley Bank destaca a enormidade do problema da acumulação de risco por design político. O SVB não entrou em colapso devido a uma administração imprudente, mas porque fez exatamente o que os keynesianos e os intervencionistas monetários queriam que fizessem.

 

 

Artigo originalmente publicado em dlacalle.com.

 

Tradução e edição de André Marques.

 

Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestor de fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escape from the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). É professor de economia na IE Business School em Madrid.

 

Nota: As opiniões expressas neste artigo não necessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e do tradutor/editor deste artigo.

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