Daniel Lacalle | Novas Sanções da União Europeia Podem ser Inúteis Contra o Governo Russo e Beneficiar a China



As propostas da União Europeia e dos EstadosUnidos para implementar um embargo energético total à Rússia devem considerar arealidade. A Ásia está a importar tudo o que a Rússia pode oferecer. China,Índia e as principais economias asiáticas elevarão as exportações russas aomaior valor da última década, segundo o Financial Times. O superávit da balançacomercial da Rússia pode chegar a US$ 28 mil milhões em março, um recordehistórico, segundo a Reuters.


Isto não significa que as sanções não funcionam.As estimativas de queda do PIB da Rússia variam entre 11 e 15% em 2022 e ainflação está próxima de 200%, segundo JP Morgan, Quartz e Business Insider.


No entanto, a União Europeia e os EstadosUnidos devem observar que as sanções desaparecerão, já que os países asiáticosestão a comprar toda a produção russa disponível com descontos significativos.


A União Europeia, o Reino Unido e os EstadosUnidos não podem cometer o erro de pensar que podem suportar 100% do embargoenergético quando a China está a aumentar suas importações da Rússia.


A rota de fuga das sanções é a China, quemantém uma posição neutra e, embora isto não impeça as dificuldades económicasda Rússia, sem a colaboração da China não pode haver um embargo bem-sucedido.


Em 2022, as exportações da Rússia para aChina, Ásia e países emergentes ultrapassariam US$ 170 mil milhões, segundo oGoldman Sachs, significativamente maior do que o valor de 2021 para exportaçõespara a União Europeia de US$ 158 mil milhões. A Rússia exportará quase US$ 103 milmilhões para a China, bem acima dos US$ 79 mil milhões de 2021, segundo oGoldman Sachs.


A evidência é clara. Sem a China não há umreal embargo energético.


A China responde por 15.4% das exportaçõestotais de petróleo bruto da Rússia, com apenas a Arábia Saudita a vender mais.Estamos a falar de 1.6 milhão de barris por dia no ano passado que pode chegara três milhões de barris por dia em 2022.


Quanto ao carvão, a Rússia é o segundo maiorfornecedor para a China em 2021: 57 milhões de toneladas no ano passado (17.6%de suas importações totais de carvão).


A Rússia também é o terceiro maior fornecedorde gás da China. O gigante asiático respondeu por 6.7% das exportações russasde gás natural em 2021, 16.5 mil milhões de metros cúbicos (o equivalente a 5%da demanda da China). Todos estes números são da Reuters.


As exportações da Rússia para os paísesasiáticos que não participam das sanções são massivas, do Vietnã à Coreia. AÍndia também é um dos grandes beneficiários da compra de commodities energéticasda Rússia com descontos significativos.


A Rússia é o sexto maior fornecedor de carvãoda Índia (1.8 milhão de toneladas em 2021), segundo a Reuters e a ImanResources. Em petróleo e gás, a Índia pesa muito menos do que a China,importando 43400 barris de petróleo por dia da Rússia em 2021 e um acordo de 20anos com a Gazprom para comprar 2.5 milhões de toneladas de gás naturalliquefeito por ano, segundo a Reuters e Platts.


A União Européia pode descobrir que novassanções geram uma grave crise em sua economia, mas pouco dano incremental àRússia, já que a China importará mais e mais baratos produtos para depoisexportar produtos acabados para outros países.


Não esqueçamos que a União Europeia não podepermitir-se cortar completamente as importações de energia da Rússia. Dos 150metros cúbicos de gás natural que a União Europeia importa, apenas uma partepode ser substituída por gás norte-americano ou norueguês. E nos próximos mesesa disponibilidade de gás natural liquefeito ocioso é quase inexistente segundoa Platt’s.


Os Estados Unidos podem se dar ao luxo deproibir as importações da Rússia porque é independente em gás natural e quaseindependente, com México e Canadá, em petróleo. O Reino Unido pode substituiras importações russas pelas do Mar do Norte e de uma carteira de fornecedoresmuito diversificada.


Não há embargo de energia à Rússia se a Chinanão aderir. Novas sanções podem simplesmente ser um benefício relativo para aChina.



Artigo originalmente publicado no site doDaniel Lacalle.


Tradução e edição de André Marques.


Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestorde fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escapefrom the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). Éprofessor de economia na IE Business School em Madrid.


Nota: As opiniões expressas neste artigo nãonecessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e dotradutor/editor deste artigo.

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