Em entrevista ao The Wall Street Journal, asecretária do Tesouro dos EUA Janet Yellen admitiu que os planos de estímuloimplementados pelo governo dos EUA ajudaram a criar o problema da inflação. “Ainflação é uma questão de demanda e oferta, e os gastos que foram realizados noPlano de Resgate Americano alimentaram a demanda”, admitiu Yellen. Claro,Yellen disse que os gastos eram apropriados devido ao colapso da economia, poisos governos tentavam evitar uma recessão.
Isto faz lembrar alguns dos problemas daintervenção governamental desproporcional e o impacto negativo sobre a classemédia. Os confinamentos maciços equivocados foram impostos pelo governo. Paísesque tiveram testes rigorosos, como Coreia do Sul e outros países asiáticos eeuropeus, mantiveram a economia a funcionar e a pandemia sob controle. Noentanto, o problema é maior e mais profundo. Bancos centrais e governosesgotaram todas as políticas do lado da demanda às custas da classe média [Notad editor: e, sobretudo, dos pobres, que possuem um rendimento ainda menor],corroendo os salários reais e as poupanças.
Pior ainda, os governos criaram uma espiralinflacionária maior ao manter todos os pacotes de “alívio pandêmico” mesmo apósa reabertura da economia. Eles esperavam um aumento espetacular da demandaagregada e conseguiram [Nota do editor: porém, muito maior do que a oferta,como é de se esperar quando se aumenta a oferta monetária; afinal, não é oaumento da quantidade de dinheiro e a demanda artificial que é gerada pelamesma que faz aumentar a produção, mas, sim, um aumento de produtividadeadvinda de investimentos genuínos, vindos da poupança]. Agora, o resultado é ataxa de inflação mais alta e crescimento económico mais baixo. Mas o tamanho dogoverno e os gastos deficitários permanecem.
Tudo o que o governo gasta é pago por você.Não há dinheiro grátis. Inclusive para os beneficiários de benefícios dadosmoeda constantemente depreciada. Inflação é um imposto sobre os pobres.
Os governos não evitam recessões por meio degastos, eles simplesmente aumentam os problemas acumulados adicionandoconstantemente dívidas que os bancos centrais monetizam por meio doquantitative easing [Nota do editor: este é o programa de compra de ativosfeito pelos bancos centrais através do aumento da base monetária]. Este aumentodescontrolado do agregado monetário M3 (uma proxy monetária ampla) leva àinflação dos ativos primeiro e à inflação dos preços dos bens cotidianosdepois. Ambas as consequências levam à desigualdade e a uma constantedeterioração do poder de compra da moeda, fazendo com que os salários em termosreais sejam mais baixos.
A criação de dinheiro planeada centralmentenunca é neutra. Beneficia desproporcionalmente os primeiros recebedores dedinheiro (o governo e aqueles com ativos e dívidas) e impacta negativamenteaqueles com salários e com poupanças em depósitos, que se desvalorizam com otempo. Nenhuma planilha de Excel socialista pode apagar o fato de que gastosdeficitários maciços financiados com dinheiro recém-criado destroem os pobres ea classe média. Eles podem dizer que os gastos do governo vão para programassociais que beneficiam os pobres, mas isto não acontece [Nota do editor: e,mesmo se acontecesse, seria ineficiente]. Programas sociais em uma moeda constantemente desvalorizada tornam-seirrelevantes, ineficientes e inúteis, ao mesmo tempo em que o estado debem-estar socialmente nomeado condena uma parcela substancial da população aser cliente refém dos planos governamentais.
O governo tira a riqueza existente e futura daeconomia por meio da impressão de moeda, impostos, gastos e dívidas, mas amatemática nunca funciona para aqueles que acreditam que as políticasconfiscatórias funcionarão. A multidão que pede para “taxar os ricos” está aprestar um enorme desserviço aos cidadãos que finge apoiar. Osintervencionistas podem usar a desculpa de roubar dos ricos para dar aospobres, mas a realidade é que os gastos do governo são tão enormes que eles nãopodem financiar todos os direitos e programas sociais com o dinheiro de um porcento da população. O governo tira dos 99% para dar fundos desvalorizados ecada vez mais sem valor a 45% da população e, no processo, inchando umaburocracia cada vez maior para administrar tudo.
Você ficou feliz quando recebeu um cheque pagocom dinheiro impresso pelo governo? Veja agora como seus mantimentos diários,gás e energia tornaram-se inacessíveis.
O governo sempre leva três quando promete um.O enorme acúmulo de dívida pública será pago pelos 99% via inflação, impostosou ambos.
Gastos deficitários e criação artificial dedinheiro são apenas dois lados da mesma moeda, dissolvendo a riqueza existentede uma nação.
O preço de um bem ou serviço pode subir devidoa uma crise de oferta, mas se a quantidade de moeda emitida for a mesma, seriaimpossível ver todos os preços aumentarem simultaneamente. Na verdade, outrospreços cairiam. Os preços da maioria dos bens e serviços só podem subir simultaneamentese a quantidade de moeda aumentar mais rápido do que a demanda.
Governos e bancos centrais continuarão a imporpolíticas do lado da demanda sob a desculpa de que é melhor para todos e evitauma recessão, a ideia de que é bom para você. O incentivo para fazê-lo é grandeporque, quando não funciona, culpam as empresas, a geopolítica, os ricos ouqualquer outra coisa. Se os cidadãos acreditam que o governo pode criar riquezaatravés da impressão de dinheiro, os governos o farão, apresentando-se como asolução para o problema que criaram. Recebemos nosso cheque pandêmico e agoraestamos a pagar muito mais caro pelo mesmo.
Agora, os keynesianos veem que há apenas uma maneira de conter a inflação: frear a demanda agregada.Mas os governos não vão reduzir os gastos, então a “redução da demandaagregada” tornará todos no setor privado mais pobres.
A inflação foi criada usando os confinamentospara aumentar massivamente o tamanho do governo. Yellen diz que a inflação éconsequência da oferta e da demanda, mas, se assim fosse, a Argentina e a Venezuelateriam taxas de inflação baixas. O problema é aumentar a oferta de moeda.
A miragem de enormes gastos governamentais eimpressão exponencial de moeda é um processo de expropriação. O governo expandeseu tamanho às custas do resto da população, inclusive daqueles que defendem programasde gastos públicos crescentes.
As políticas do lado da demanda expropriam ariqueza de três maneiras. Primeiro, com défices descontrolados financiados comdívidas, o que significa impostos mais altos no futuro. Segundo, aumentar osimpostos para “reduzir o défice”. Terceiro, com a inflação. O peso do governona economia aumenta em todas as três etapas. Então, quando falha, os governosrepetem o processo.
Se você queria mais governo, isto é maisgoverno: menos crescimento, inflação mais alta e cidadãos mais pobres.
Artigo originalmente publicado no site doDaniel Lacalle.
Tradução e edição de André Marques.
Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestorde fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escapefrom the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). Éprofessor de economia na IE Business School em Madrid.
Nota: As opiniões expressas neste artigo nãonecessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e dotradutor/editor deste artigo.