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Daniel Lacalle | Como o Aumento das Taxas de Juro Pode Levar a uma Recessão

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A história do desenvolvimento económico nãopode ser compreendida sem a importância dos períodos de recessão. As recessõessão muitas vezes o resultado do excesso [nota do editor: de maus investimentos]acumulado em anos anteriores. A destruição criativa após um período de excessocostumava impulsionar uma recuperação mais forte e desenvolvimento económicocontínuo. Era assim até que ativos de risco se tornaram a maior preocupaçãopara os formuladores de políticas.


Desde o final dos anos 1970 e início dos anos1980 até o estouro da bolha tecnológica [início dos anos 2000] e imobiliária [2007-2008],há um claro processo de causalidade criado pela política de taxas de juros.Quedas constantes nas taxas de juro levam a um aumento excessivo de riscos,complacência e acúmulo de exposição a ativos cada vez mais caros sob a perceçãode que não há risco. As bolhas tornam-se maiores e mais perigosas porque astaxas de juro são mantidas anormalmente baixas por um período prolongado edisfarça o risco, obscurecendo a perceção de perigo por parte cidadãos einvestidores. O dinheiro [artificialmente] barato leva à exposição a riscosgeneralizados e perigosos.


Após cada recessão, os bancos centrais mantêmas taxas muito baixas por muito tempo, mesmo em períodos de crescimento [económico],porque os formuladores de políticas temem correções de preços de ativos, e istoleva à complacência e à criação de bolhas em todos os lugares. Uma vez que osformuladores de políticas decidem aumentar as taxas de juro, geralmente causamuma recessão porque a quantidade de risco assumida até mesmo pelo investidor oufamília mais conservadora é simplesmente muito alta. No momento em que osbancos centrais decidem finalmente aumentar as taxas, as bolhas já são mais doque uma manchete de mercado, mas um acúmulo perigoso e generalizado de riscoque afeta negativamente milhões de cidadãos desavisados.


A questão é o que é pior, os cortes das taxas juroou os aumentos? Os aumentos das taxas tendem a desencadear recessões (comoJesse Colombo ou Lance Roberts mostraram em vários gráficos) mas o que os causa são anteriores níveis extraordinários de riscos acumuladosem toda a economia.


Os ciclos de boom e bust [os ciclos económicos] é mais severo e frequente, como vimos desde o final dos anos 1970. É por istoque os bancos centrais nunca normalizam a política [monetária], as taxaspermanecem em território negativo em termos reais [Nota do editor: veja por queo Federal Reserve eBCE não podemnormalizar a política monetária aqui e aquiaqui e aqui]. E os investidores sabem disto. É por isto que existe um incentivo perversopara famílias, empresas e investidores comprarem qualquer correção [do mercadode ações].


O temor de alta de juros permite-nos analisaro que aconteceu em outros períodos semelhantes.


Entre 1985 e 1990, o Federal Reserve (Fed)elevou a taxa de juro em 3.25% e o S&P 500 subiu 45%. O ciclo de aumento dataxa de juro levou economias emergentes como o México ao chão e estados como aCalifórnia faliram.


Entre 1993 e 2000, o Fed também elevou a taxade juro em 3.25% e o mercado de ações dos EUA disparou 225%. Neste período,vimos o estouro da bolha tecnológica [a bolha da Nasdaq] e a recessão do iníciodos anos 2000. No período de 2003 a 2007, o Fed elevou a taxa em 3.75% e omercado subiu 30%. Trouxe a grande crise financeira e o estouro da bolhaimobiliária.


Entre 2015 e 2020, o Fed elevou a taxa de juroem 2% e o mercado subiu 65%. Neste período, em 2018, vimos o Fed mudar seucurso de aumentos de juros rapidamente após uma correção do mercado [Nota doeditor: como mencionei aqui].


O Federal Reserve mudará seu plano de aumentoda taxa de juro desta vez? A história nos mostra que os bancos centrais sepreocupam muito mais com ativos de risco – ações e títulos – do que dizem ecertamente muito mais do que com a inflação de preços.


No início de 2016, diante de um ciclo de altasesperadas de juros, o S&P 500 corrigiu 11.3% até 20 de janeiro. O Federal Reserveacabou elevando as taxas apenas uma vez naquele ano, apesar de anunciar quatroaumentos. Por que eles mudaram? “Risco geopolítico e enfraquecimento dascondições financeiras”. Exatamente o que está a acontecer agora.


Em dezembro de 2018, após anos de mercado dealta, o mercado de ações dos EUA caiu 9%. E, em 3 de janeiro de 2019, corrigiuoutros 3.5%. No dia seguinte, o Federal Reserve anunciou que “seria paciente” einterrompeu sua trajetória de aumento da taxa de juro.


É verdade que a inflação de preços na alturanão era de 7% e o Federal Reserve provavelmente pode ser mais tolerante a umacorreção de mercado do que quando a inflação de preços dos EUA era de 3%, masnão podemos esquecer que a história nos mostra que os bancos centrais sempremantêm condições mais flexíveis do que parece em suas mensagens e manchetes.


A evidência da desaceleração económica dosEstados Unidos está em toda a parte. Vendas no retalho, criação de empregos,participação estagnada da força de trabalho, queda dos salários reais edesaceleração dos gastos de capital. A tudo isto devemos acrescentar o aumentocontínuo dos preços commodities energéticas devido às tensões na Ucrânia.


O Federal Reserve está ciente da “bolha detudo” criada nos últimos anos e dos elevados níveis de endividamento em toda aeconomia. Infelizmente, o Fed já deixou a taxa de juro baixa e as compras deativos elevadas por muito tempo para evitar um efeito económico negativo. Piorainda, a solução provavelmente será repetir as mesmas políticas que criaram ascondições para o excesso [de maus investimentos].


Fontes:

https://twitter.com/dlacalle_IA/status/1485170347037102080?s=20

https://twitter.com/dlacalle_IA/status/1484930468646690823?s=20

Artigo originalmente publicado no site doDaniel Lacalle.


Tradução e edição de André Marques.


Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestorde fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escape from the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). É professor de economia na IE Business School em Madrid.


Nota: As opiniões expressas neste artigo nãonecessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e dotradutor/editor deste artigo.

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