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Daniel Lacalle | Como a Impressão de Dinheiro Destruiu a Argentina e Pode Destruir Outros Países

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As palavras mais perigosas em políticamonetária e economia são “desta vez é diferente”. O grande erro dos políticosna Argentina é acreditar que a inflação é multicausal e que tudo se resolve comdoses crescentes de intervencionismo.


O índice de preços ao consumidor da Argentinateve um aumento anual de 58% em abril de 2022, 2.9% acima da variação registadaem março passado. Uma verdadeira catástrofe. A taxa de inflação ao consumidorda Argentina é mais de seis vezes superior a do Uruguai, cinco vezes superior ado Chile, quatro vezes superior a do Brasil ou do Paraguai, países vizinhosexpostos aos mesmos problemas globais.


Não, a inflação na Argentina não émulticausal, tem apenas uma causa: uma política monetária extrativista e confiscatória.Impressão de pesos argentinos sem controlo e sem demanda. A Argentina infla suabase monetária para financiar gastos públicos excessivos, inflados edestrutivos.


Até agora este ano, a base monetária sofreu umaumento de 43.83%, o que é uma loucura total. A taxa de inflação ao consumidoré de 58.2%.


Nos últimos três anos a base monetária teve umaumento de 179.73% e em 10 anos mais de 1543.8%. Isto é uma aberração económica,não “política monetária inclusiva” como Axel Kicillof, governador de BuenosAires, chamou.


Nos últimos dez anos, o peso argentino perdeu99% de seu valor em relação ao dólar americano. A Impressão de pesos argentinosestá a expropriar a riqueza do país.


Muitos peronistas argentinos dizem que osEstados Unidos também aumentam massivamente sua oferta monetária e não têminflação ao consumidor. O argumento não se sustenta. A base monetária dosEstados Unidos cresce a uma taxa de 9.9%, seis vezes menos do que a daArgentina. Além disto, os Estados Unidos também sofrem com uma inflação aoconsumidor de 8.5% [Nota do editor: na verdade, calculada com a metodologiamais honesta que o próprio governo utilizava na década de 1980, está acima de16%]. No auge do excesso de dinheiro nos EUA, a base monetária cresceu 26.9%. Nessemesmo período, a da Argentina triplicou (e com demanda decrescente por pesos,enquanto a demanda global e local por dólares americanos cresceu).


Em termos agregados, a oferta monetária daArgentina, incluindo toda a moeda em circulação, teve um aumento de 2328.09% emdez anos, enquanto nos Estados Unidos dobrou. Em outras palavras, a ofertamonetária agregada na Argentina na última década aumentou mais de onze vezes ataxa dos Estados Unidos.


Não são apenas os estrangeiros que não exigempesos ou os aceitam em transações internacionais, o que é uma realidade. Oscidadãos da Argentina não aceitam sua própria moeda como reserva de valor,unidade de medida e meio de pagamento na maioria das vezes.


O mais triste é que muitos dizem que aArgentina já foi dolarizada antes e não deu certo. Não houve dolarização naArgentina. Foi feito um engano que era dizer que um peso era igual a um dólaramericano. Assim como as stable coins [Nota do editor: stable coins são criptomoedas- supostamente – lastreadas por moedas fiduciárias, como o Tether, quesupostamente possui um lastro de 1/1 com o dólar americano. Digo supostamentepois não há muita certeza de que a Tether Limited, a empresa que emite oTether, tenha reservas o suficiente para honrar o lastro de 1/1] que estão acair no mercado hoje, a ‘dolarização’ da Argentina era simplesmente uma falácia.E, quando estourou, os formuladores de políticas destruíram ainda mais o poderde compra da moeda.


Os Estados Unidos não têm este problema…ainda. A confiança no dólar americano ainda não está a cair. Está a subir e épor isto que está a fortalecer-se em relação a maioria das principais moedas domundo. A principal razão para esta força relativa é que o Federal Reserve [Notado editor: o banco central dos EUA] monitora a demanda global por dólares americanose sua atual política monetária é vista como uma ação contra a alta taxa deinflação ao consumidor. No entanto, a falácia muitas vezes repetida queafirmava que a impressão massiva de dinheiro não causa inflação terminouabruptamente com o desastre cometido em 2020: um aumento sem precedentes nosgastos do governo financiado com dinheiro recém-criado, fazendo com que ainflação ao consumidor disparasse vigorosamente.


O dólar americano não sofre porque asalternativas ao mesmo são piores, (seja porque os outros bancos centraisimprimem moeda de forma ainda mais agressiva ou porque alguns países têmcontrolos de capital e falta de segurança jurídica). No entanto, o FederalReserve não pode dar-se ao luxo de descansar. A confiança em uma moeda comoreserva de valor, unidade de medida e meio de pagamento pode desaparecer maisrapidamente do que os formuladores de políticas imaginam. O atual sistema defreios e contrapesos na economia dos EUA e seu sistema financeiro aberto mantêmo dólar americano vivo como moeda de reserva mundial, mas as nuvens estão a seacumular. Por um lado, os políticos nos Estados Unidos estão cada vez mais a defendera adoção de políticas monetárias ainda mais agressivas para financiar umorçamento governamental crescente. Por outro lado, algumas nações estão abuscar alternativas ao dólar americano precificar as commodities. Estas ameaçasainda são distantes, mas não devem ser ignoradas. O leitor pode pensar que aArgentina é um exemplo maluco para comparar com os Estados Unidos, mas oexagero é proposital. Basta olhar para a história dos governos a empurrarem oincentivo para aumentar massivamente o orçamento financiado por uma moeda cadavez menos demandada e os riscos para o euro ou o dólar americano tornam-se maisaparentes. O leitor pode dizer que os cidadãos das economias desenvolvidasnunca permitiriam que algo assim acontecesse em suas nações, mas a Argentinatambém era uma economia rica e próspera décadas atrás. Era uma das economiasmais ricas e maiores do mundo no início do século XX. Uma combinação deprotecionismo, políticas populistas intervencionistas e decisões monetáriasinsanas destruíram a economia a um ponto em que nunca se recuperou.


Todas as decisões insanas dos governosargentinos acima mencionadas são agora defendidas por políticos nos EstadosUnidos e na Europa, muitas vezes a dizerem: “não vai acontecer connosco” e“desta vez é diferente”. Não é diferente.


Os impérios sempre caem porque começam adestruir o poder de compra de sua moeda e sua posição no mundo desmorona àmedida que o protecionismo e o intervencionismo corroem a confiança no governoe em suas instituições. Uma vez iniciada a destruição, é apenas uma questão detempo até que os cidadãos comecem a economizar em ouro ou outras reservas reaisde valor. Fica uma lição para todos aqueles que defendem a constante ampliaçãodos limites da política monetária. Uma vez que você foi longe demais, não hácomo voltar atrás.


O JP Morgan costumava dizer que ouro édinheiro e todo o resto é crédito. Crédito é confiança. Uma vez que a confiançaé perdida, a moeda dissolve-se. Esta é uma lição para todos.



Artigo originalmente publicado no site doDaniel Lacalle.


Tradução e edição de André Marques.


Autor: Daniel Lacalle é um economista e gestorde fundos espanhol, autor dos bestsellers Freedom or Equality (2020), Escapefrom the Central Bank Trap (2017), e Life in the Financial Markets (2014). Éprofessor de economia na IE Business School em Madrid.


Nota: As opiniões expressas neste artigo nãonecessariamente vão totalmente de acordo com as da Elementum Portugal e dotradutor/editor deste artigo.

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