A China provavelmente está silenciosamente a aumentar suas reservas de ouro para minimizar sua dependência do dólar americano.
Os bancos centrais adicionaram quase 400 toneladas de ouro no 3º trimestre de 2022, segundo o World Gold Council (WGC). Isso foi 300% maior do que no 3º trimestre de 2021 e foi o maior aumento trimestral das reservas de ouro dos bancos centrais desde que o WGC começou a manter registos em 2000.
Os bancos centrais da Turquia, Uzbequistão, Catar e Índia foram grandes compradores no 3º trimestre, mas suas compras reportadas representam apenas uma fração do total. Uma grande parte (quase 300 toneladas) não foi oficialmente informada e veio de um comprador ou compradores misteriosos. Questiona-se, portanto, quem está a comprar ouro secretamente.
Há alguma especulação de que o uso do dólar americano como arma para punir a Rússia pela invasão da Ucrânia (por exemplo, o congelamento das gigantescas reservas internacionais – US$ 630 mil milhões – do Banco Central da Rússia) motivou alguns países a diversificar suas reservas em detrimento do dólar americano. Menos exposição ao dólar americano significa menos exposição à pressão diplomática e económica de Washington DC.
O economista japonês, Emin Yurumazu, disse ao Nikkei Asia: “Vendo como os ativos da Rússia no exterior foram congelados após a invasão à Ucrânia, os países antiocidentais estão ansiosos para acumular reservas de ouro”.
Alguns especulam que a Rússia pode estar por trás do aumento das compras de ouro pelos bancos centrais; porém, segundo o Nikkei Asia, a China é o candidato mais provável. O analista de mercado Itsuo Toshima disse: “A China provavelmente comprou uma quantidade substancial de ouro da Rússia”.
O Finbold News cita autoridades alfandegárias chinesas que disseram que as importações chinesas de ouro da Rússia dispararam em julho. Eles relataram um aumento de mais de oito vezes em relação a junho, sendo 50 vezes a quantidade de ouro importando pela China em comparação ao ano anterior.
A China tem uma histórico de acumular ouro secretamente. Por exemplo, em 2009, o People’s Bank of China – PBoC (o banco central da China) parou de relatar suas reservas de ouro. Então, em junho de 2015, o PBoC anunciou repentinamente que suas reservas de ouro tinham crescido 57%. Nos 16 meses seguintes, o PBoC anunciou regularmente acréscimos às suas reservas de ouro, que tiveram um aumento de 185 toneladas antes de o PBoC repentinamente ficasse em silêncio novamente (não relatou nenhum aumento em suas reservas oficiais de ouro desde o final de 2016).
Muitos analistas acreditam que a China detém muito mais ouro do que revela oficialmente. Como Jim Rickards mencionou em 2015, especula-se que a China mantém vários milhares de toneladas de ouro em uma entidade separada chamada State Administration for Foreign Exchange (SAFE).
Não se sabe ao certo se a China está secretamente a acumular ouro; porém, sabemos que os chineses estão a diminuir sua exposição ao dólar americano (já que está a vender títulos de dívida dos EUA). Do final fevereiro (imediatamente depois da invasão da Ucrânia pela Rússia) ao final de setembro, a China vendeu US$ 121.2 mil milhões em títulos de dívida dos EUA.
André Marques