A inflaçãomonetária provocada pelos governos através dos bancos centrais causa inflaçãode preços, ou, na melhor das hipóteses, impede quehaja uma deflação de preços (ou seja, impede que os preços caiam). Isto já é bem compreendido. Porém, ainflação de preços pode manifestar-se de uma maneira mais oculta, a Shrinkflation.
Quando háinflação de preços, os produtos podem simplesmente sofrer aumento de preços oupodem ter seu conteúdo e/ou qualidade diminuídos, mas mantendo o mesmo preço.Ou seja, o consumidor paga o mesmo por menos. E, para obter a mesma quantidadede antes, acaba por gastar mais. Isto é a Shrinkflation (shrink significaencolher). Ou seja, é uma inflação de preços manifestada pela diminuição deconteúdo e/ou qualidade.
Este fenómeno nãoé recente, mas tem acontecido com mais frequência, devido a uma maior expansãodos agregados monetários M1 e M2, o que tende a provocar um maior aumento dainflação de preços.
Vejamos algunsexemplos para melhor ilustrar este conceito:
1 – Recentemente,o papel higiênico Great Value, do Walmart, passou de 168 folhas duplas paraapenas 120 (uma diminuição de cerca de 30%) e o preço permaneceu a ser US$14.97 por 12 rolos.
2 – Ainda nesteano, o gelado/sorvete da Tillamook (empresa situada em Oregon) reduziu o seuspotes tamanho-família de 1.6 Kg para 1.36 Kg. Porém, o preço permaneceu o mesmo:cerca de US$ 6.
Figura 1 – Tillamook
Fonte: Washington Post.
3 – Tambémrecentemente, o conjunto ‘mega pack’ de sacolas plásticas de lixo da Hefty mudou de 90 sacolas para 80 sacolas, com o preço inalterado.
4 – Durante apandemia, a Royal Canin reduziu o peso de algumas latas de comida de gato de 167.3 gramas para 144.6 gramas, mantendo o preço.
Há também outrostipos de shrinkflation. Pode haver uma diminuição do conteúdo, mas o preçoaumenta (em vez de ficar inalterado). Ou pode haver uma diminuição do conteúdocom uma diminuição do preço (mas menor que a diminuição do conteúdo).
Um exemplo doprimeiro caso pode ser observado no primeiro vídeo deste artigo publicado em julho, que mostra um pacote de Doritos quediminuiu de 276.4 gramas (ao preço de US$ 2.5) para 262.2 gramas (ao preço deUS$ 2.72). A redução de conteúdo foi de5.1%, mas o preço aumentou 8.8%.
Figura 2 –Doritos
Fonte: ABC.
Outro exemplo doprimeiro caso pode ser visto neste artigo, que menciona o papel higiênico da Charmin, cujo rolo original tinha 650 folhas.Agora, até mesmo os rolos maiores, os “Mega Rolls” e “Super MegaRolls” possuem menos folhas do que o original estão mais caros. Alémdisto, as folhas também ficaram menores:
Figura 3 – Papel HigiênicoCharmin
Fonte: WBUR.
Um exemplo dosegundo caso pode ser observado nas revistas da Marvel publicadas pela editora Panini Brasil, entre2006 e 2013. Em 2006, as revistas mensais tinham 100 páginas (com capa mole epapel pisa-brite – semelhante ao papelde jornais, mas mais resistente e menos mole) e custavam R$ 6.90 (ver aqui e aqui). Em 2010, passaram a ter 76 páginas, aopreço de R$ 6.50 (ver aqui e aqui). Portanto, houve uma diminuição de 24%do conteúdo, mas o preço diminuiu apenas 5.8%. Além disto, a qualidade dascapas e das páginas internas diminuiu (ambas ficaram mais frágeis). Já em 2013,as revistas sofreram uma shrinkflation padrão, do tipo dos primeiros exemplosdeste artigo: passaram a ter 68 páginas, ainda ao preço de R$ 6.50 (ver aqui e aqui). E a qualidade das capas e das páginasinternas piorou novamente (ambas ficaram ainda mais frágeis), e as coresinternas ficaram mais fracas (menos uso de tinta). Apesar de o preço não tersofrido alteração, o material das revistas piorou quantitativa equalitativamente.
(Nota: asinformações sobre a qualidade das capas e das páginas não estão nestes links,mas possuo estas revistas e posso confirmá-las).
A shrinkflation émais um motivo pelo qual os índices de inflação de preços divulgados pelosgovernos não refletem a real inflação de preços sentida pelos indivíduos, poisnão é levada em consideração nos cálculos. É uma inflação de preços maisdisfarçada e, em alguns casos, não percebida pelos consumidores.
André Marques