A produção das mineradoras de ouro aumentou modestamente em 2022, à medida que as operações de mineração se normalizaram após a pandemia. Porém, a produção ainda não voltou ao pico visto em 2018, aumentando a especulação de que possivelmente atingimos o “pico do ouro” (o ponto em que a quantidade de ouro extraído da terra começará a diminuir a cada ano).
Nos últimos anos, vários executivos de mineração de ouro alertaram que já descobrimos a maior parte do ouro que pode ser razoavelmente minerado do mundo. Em 2019, o presidente da Goldcorp, Ian Telfer, disse que já estamos no ‘pico do ouro’. Durante o Denver Gold Forum em setembro de 2017, o presidente do WGC, Randall Oliphant, disse que achava que o mundo já poderia ter chegado a este ponto. E na primavera de 2019, um relatório da Deutsche Welle argumentou que estamos próximos do “pico de ouro”.
A produção das mineradoras de ouro continuou a se recuperar em 2022, com a indústria permanecendo praticamente livre de interrupções na China. Segundo o World Gold Council (WGC), a produção das mineradoras em todo o ano de 2022 chegou a 3612 toneladas. Este foi um aumento de 1% em relação a 2021 e a maior produção desde 2018.
Figura 1 – Produção das Mineradoras em Toneladas
Produção das Mineradoras em Toneladas (Barras Verdes); Alteração Anual em % (Linha Vermelha).
Fonte: WGC.
Mas a produção de ouro ainda não voltou ao pico de 2018. O WGC disse: “Essa falta de crescimento da produção dá mais credibilidade às alegações de que a produção de ouro está perto do platô”.
A produção de ouro estagnou nos últimos anos, mesmo se for considerado o impacto da pandemia. Depois de desacelerar por vários anos, a produção das mineradoras de ouro caiu 1% em 2019. Embora aquele ano tenha marcado o primeiro declínio absoluto da produção de ouro desde 2008, continuou uma tendência geral de diminuir a produção das mineradoras.
Historicamente, a produção das mineradoras geralmente aumentou a cada ano desde a década de 1970. Houve uma queda da produção em 2008, mas isso foi uma espécie de anomalia, pois ocorreu no início da crise financeira de 2008.
A recente desaceleração na produção das mineradoras é mais preocupante. Como mencionado acima, há uma possibilidade de que o “pico do ouro” já foi atingido.
O maior problema enfrentado pelas empresas de mineração é que elas já extraíram a maior parte do ouro fácil de extrair da terra. Vimos um declínio acentuado na descoberta de novas minas de ouro, apesar dos aumentos do financiamento de exploração. Os avanços tecnológicos podem ajudar a alcançar o ouro mais difícil de extrair, mas isso significa aumento de custos e um preço mais alto do ouro é necessário para sustentar esses projetos.
Segundo o WGC, o All-in Sustaining Costs – AISC (custos de trabalho e materiais + custos de manutenção e de investimentos para cumprir as exigências regulatórias + custos de exploração + custos gerais e administrativos) atingiu US$ 1289/onça no 3º trimestre de 2022. Esse foi outro recorde e um aumento de 14% em relação ao ano anterior.
A África do Sul demonstra o problema enfrentado pelas mineradoras de ouro. O país já foi o maior produtor mundial de ouro. Em 2020, saiu do top 10.
Em 2018, foi divulgado um estudo dizendo que a África do Sul poderia ficar sem ouro em quatro décadas. Os analistas dizem que, com os atuais níveis de produção, o país tinha apenas 39 anos de reservas de ouro acessíveis.
Se atingimos o pico do ouro ou não, permanece discutível. Independentemente disso, a indústria do ouro pode estar entrando em um período de longo prazo (e possivelmente irreversível) de menos ouro disponível. Como as mineradoras acham mais difícil extrair ouro da terra, isso significará menos ouro para as refinarias produzirem para o mercado consumidor. Lembremos que ouro possui valor (em grande parte) devido a sua escassez.
André Marques